Dilma defende fim de financiamento privado

Posição da presidente vai contra o que câmara aprovou; ajuste fiscal é defendido como 'mudança tática'

Mariana Sanches

A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que é a contra as doações feitas por empresas a candidatos e partidos políticos. A posição, defendida pela presidente durante congresso do PCdoB em São Paulo, contraria a reforma política que está sendo votada pelo Congresso Nacional. Sob o comando do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), os deputados aprovaram, na quarta-feira, o financiamento privado das campanhas. Num discurso de mais de uma hora, Dilma também defendeu o ajuste fiscal e afirmou que o governo atingiu o limite da capacidade de usar seus recursos para proteger a economia. 

- Considero que temos que introduzir na Constituição o fim do financiamento empresarial de campanha. Temo que isso esteja sendo postergado - disse Dilma, numa crítica indireta a Cunha. 

A proposta defendida por Cunha e aprovada pelos deputados prevê o oposto: inserir na Constituição a permissão de que empresas possam doar para partidos políticos. Ainda sobre a agenda do Congresso, Dilma se colocou contra a redução da maioridade penal: 

- Fico preocupada com o avanço de algumas questões. Tem conquistas civilizatórias que não vamos poder voltar atrás. Me refiro à redução da maioridade penal. Nós temos posição clara de punir o adulto que recruta a criança para usá-la como uma espécie de escudo penal - afirmou, em referência ao projeto de lei de redução da idade penal de 18 para 16 anos aprovada recentemente pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. 

Diante de uma plateia formada por cerca de 500 militantes e dirigentes do PCdoB, Dilma falou sobre a crise econômica e as medidas de ajuste defendidas por seu governo: 

- Chegamos ao limite da nossa capacidade de utilizar os recursos do governo federal para proteger nossa economia. Vamos ter que dar uma reequilibrada no fiscal, será uma mudança tática - afirmou a presidente, que prosseguiu: 

- Um país não faz ajustes gastando mal nem sucateando seus programas sociais e de infraestrutura. É esse o desafio que o governo está apresentando e que exige rapidez. 

A rapidez a que Dilma se refere é a dos parlamentares para aprovar não só as medidas provisórias que alteram benefícios trabalhistas mas também o projeto de lei que reduz a desoneração da folha de R$ 25 bilhões para R$ 12 bilhões. O projeto deve entrar em votação no Congresso no próximo mês. 

Dilma reafirmou que programas como Bolsa Família, Mais Médicos, Fies, Pronatec e Prouni, entre outros, não sofrerão reduções drásticas com o ajuste fiscal. Anunciou que, em agosto, o Minha Casa, Minha Vida 3 terá início e que deverá construir mais 3 milhões de casas populares. 

- O Estado brasileiro tem que ser reformado, mas não é torná-lo mínimo, é torná-lo mais qualificado, com serviços públicos de qualidade - disse a presidente. - É mais fácil melhorar a renda, mas melhorar a estrutura educacional do país, o atendimento de saúde, isso é um processo. 

Dilma pediu apoio, a despeito das medidas duras que tem tomado, no que pode ser considerado uma estocada nos petistas, reticentes quanto ao ajuste fiscal. 

- O PCdoB sabe o significado da palavra prioridade quando precisamos unir forças em torno de questões nacionais. Tenho certeza de que posso continuar contando com vocês - afirmou Dilma.