Valor econômico, v. 15, n. 3743, 25/04/2015. Empresas, p. B5

 

Economia fraca reduz efeito cambial em máquinas

 

Por Victória Mantoan | De São Paulo

Os efeitos do dólar sobre a indústria de base, para o bem ou para o mal, estão sendo ofuscados por um problema ainda maior enfrentado pelas empresas: a anemia da atividade da indústria de transformação nacional. Para os fabricantes, a maior competitividade gerada por um real desvalorizado não é suficiente para compensar o aumento de custos, o movimento semelhante que outras moedas de países concorrentes estão tendo frente ao dólar e a baixa atividade econômica brasileira.

Do lado dos importadores, enquanto o senso comum indica o dólar entre R$ 3,00 e R$ 3,20 como um problema, a cotação da moeda é considerada questão secundária. Isso porque os importadores abastecem a indústria local e dependem da economia interna aquecida. A maior preocupação dos importadores, portanto, é a falta de investimentos do empresariado. Em um cenário como este, o dólar mais caro poderia até mesmo ter um efeito positivo, movimentando a indústria de equipamentos local e gerando demanda também para quem traz máquina de outros países, avaliam os executivos.

O efeito benéfico que o dólar poderia ter, porém, não está se concretizando, já que não consegue reduzir a capacidade ociosa da indústria nacional e gera aumento de custos tanto para os fabricantes que precisam importar insumos quanto para as importadoras.

Quando são questionados sobre o impacto da desvalorização do real sobre seus negócios, os executivos recorrem com frequência ao exemplo de 2002. Em 10 outubro daquele ano, às vésperas da eleição presidencial, o dólar atingiu R$ 4, acumulando uma desvalorização anual de quase 73%. Importadores contam que, mesmo com aquele preço, não pararam de vender bens de capital porque a indústria nacional estava aquecida e gerando demanda por equipamentos.

A avaliação da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei) é de que um dólar mais caro, no patamar que está agora, gera, a princípio, retração nos negócios, mas que isso é absorvido pelo mercado. O tempo para que isso ocorra não terminou, mas o maior agravante é a baixa atividade da indústria. A associação não trabalha com a expectativa de uma reversão no câmbio neste ano.

Mas o desafio central a ser encarado ainda é a economia brasileira. Ennio Crispino, presidente da entidade, estima queda de 20% nas importações deste ano, considerando o volume de negócios em dólar.

Isso não significa que oscilações cambiais não têm nenhum efeito sobre a indústria. As máquinas ficam mais caras e isso deve inclusive impactar setores que são mais dependentes de componentes ou máquinas inteiras importadas. É o caso dos segmentos automotivo, de petróleo e gás e geração de energia, aponta a Abimei.

O grupo Bener, importador e distribuidor multimarcas de máquinas-ferramenta, teve queda de 30% no seu faturamento no ano passado, frente a 2013. Apenas no primeiro trimestre deste ano, a queda da companhia já chega a 40%. Para o ano fechado, a expectativa do sócio-diretor técnico, Ricardo Lerner, é que o grupo consiga reduzir a queda para 20%.

A Trumpf, fabricante de máquinas alemã, sem produção nacional, espera queda significativa nos negócios no Brasil. O exercício 2014/2015 da empresa, que fecha em junho, deve ser bem pior em comparação aos R$ 170 milhões faturados no período anterior, segundo dados do presidente, João Carlos Visetti. O executivo defende que o maior impacto não está na variação da moeda brasileira, mas na crise de confiança do mercado.

Os resultados da indústria de bens de capital de fevereiro já registravam queda de 14,7% nas importações nos dois primeiros meses do ano, na comparação com o mesmo período de 2014. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) defendeu que a forte queda era provavelmente reflexo mais da baixa demanda do que da depreciação cambial.