Um amigo para "resolver problemas"
Correio braziliense, n. 18996, 30/05/2015. Política, p. 3
João Valadares
Eduardo Militão
O nome do empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, apareceu no cenário nacional em 2010, quando o país descobriu que era ele quem pagava o aluguel de um escritório da pré-campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), no Lago Sul, em Brasília. Metódico e sempre disposto a resolver “problemas para amigos”. Assim é descrito por pessoas que o conhecem. Bené é ligado ao núcleo mineiro do PT, sobretudo ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Os dois foram apresentados pelo ex-deputado federal Virgílio Guimarães, que era amigo do pai do empresário, Romeu José de Oliveira.
Benedito fez fortuna a partir do primeiro mandato do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Ele aparece como sócio de sete empresas, sendo quatro gráficas que faturaram R$ 214 milhões no governo federal entre 2004 e 2010. O empresário também é sócio de uma construtora, de uma empresa de promoção de eventos e de uma distribuidora de vinhos. É o mais bem-sucedido entre os quatro irmãos, anda em carros de luxo e costumava bancar jantares em Brasília que reuniam políticos ligados ao PT e ao PP. A Gráfica Brasil, uma das empresas, prestou serviços para a DNA, agência de publicidade de Marcos Valério envolvida no esquema do mensalão.
O avião modelo bimotor turboélice prefixo PR-PEG, usado por Bené para auxiliar políticos durante campanhas eleitorais, está registrado em nome da empresa Bridge Participações S/A. A firma, fundada em janeiro de 2011, em Brasília, funciona num escritório virtual administrado pela BR-Offices.
A aeronave serviu extraoficialmente à campanha de Fernando Pimentel. Na época, além de Benedito, estavam no avião abordado pela PF o ex-assessor dos ministérios da Saúde e das Cidades Marcier Trombiere Moreira.
Com Marcier, os policiais encontraram pouco mais de R$ 6 mil em espécie, mais de R$ 1 mil no bolso e o restante na parte exterior da mala. A grande parte do dinheiro, em mochilas, pertencia a Bené. Assim que o avião decolou de Belo Horizonte, a Polícia Federal recebeu uma denúncia anônima que apontava que uma aeronave de pequeno porte chegaria a Brasília com oito malas de dinheiro destinado a ser utilizado numa campanha eleitoral. Portar cédulas não é crime, mas a PF decidiu investigar a procedência da verba.
Material de campanha
Trombiere, aposentado do Banco do Brasil, integrou a equipe de Fernando Pimentel. Ele prestou serviços de comunicação. A gráfica Brasil Editora e Marketing, de propriedade de Bené, foi responsável pela impressão do material de propaganda utilizado pelo candidato. Na época, a Coligação Minas Pra Você, do então candidato Fernando Pimentel, explicou que não poderia se responsabilizar pela conduta de fornecedores.
Na ocasião em que foi surpreendido pela Polícia Federal, Marcier Trombiere afirmou que estava no avião de Bené por acaso. Afirmou que estava se preparando para pegar um voo de carreira no momento em que foi convidado pelo empresário para uma carona no avião.