Grupo Canhedo sob investigação

 

Depois de passar a manhã desta sexta-feira preso na Polícia Federal, o empresário Wagner Canhedo Filho pagou fiança de R$ 38 mil e foi liberado. O empresário é o alvo central da Operação Patriota, investigação da PF e da Procuradoria da Fazenda Nacional sobre fraudes fiscais de empresas do Grupo Canhedo. O empresário é acusado de burlar a fiscalização para deixar de pagar uma dívida de R$ 875 milhões.

Canhedo foi preso por posse ilegal de três armas, que foram apreendidas por acaso, quando policiais faziam busca de documentos de interesse da Operação Patriota na casa dele, em Brasília. Duas armas estavam com títulos de posse vencidos. E, pelas informações da polícia, o empresário não tem documentos da terceira. Canhedo Filho é proprietário do Hotel Nacional, o mais antigo de Brasília e que serviu de inspiração para o nome da operação.

Além da prisão de Canhedo, a PF cumpriu 10 mandados de condução coercitiva. Executivos do Grupo Canhedo e familiares do empresário foram levados para depor na Polícia Federal. As ordens de busca e os mandados de condução coercitivas foram expedidos pela 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília. A Justiça determinou também o afastamento de Canhedo do comando das empresas.

Pela ordem judicial, o controle do Grupo Canhedo deverá ser assumido por um auditor fiscal. Segundo a PF, trata-se de uma medida inovadora. Esta seria a primeira vez que a Justiça determina o afastamento de um executivo no setor privado. Até então, juízes se limitavam a afastar servidores de cargos de confiança no serviço público. Para a polícia, esta seria uma maneira de manter as empresas em funcionamento e, com isso, garantir futuro pagamento da dívida.

"A medida está prevista no artigo 319 do Código de Processo Penal entre as medidas alternativas à prisão. Com o afastamento dos gestores e a posterior indicação de um auditor fiscal, a intenção é garantir que as empresas continuem funcionando e que, portanto, os empregos dos funcionários do grupo sejam mantidos e os valores devidos ao Fisco voltem a ser recolhidos", diz a PF em nota divulgada depois do início da fase pública da operação.

Empresas do Grupo Canhedo são suspeitas de usar empresas de fachada para ocultar seu faturamento e, com isso, não pagar multas e débitos tributários. As investigações começaram no ano passado depois que fiscais da Procuradoria da Fazenda Nacional tentaram bloquear o faturamento de seis empresas do grupo para pagamento de débitos na Receita Federal, mas não tiveram sucesso. Isso porque, apesar de ativas, essas empresas não tinham faturamento.

Com as investigações, a PF e a Procuradoria da Fazenda Nacional identificaram que empresas de fachada eram usadas pelos gestores do Grupo Canhedo para ocultar o faturamento das empresas em débito com a Receita Federal. Canhedo é filho do empresário Wagner Canhedo, que ficou conhecido nacionalmente no década de 1990, após comprar a companhia de Viação Aérea São Paulo (Vasp). A empresa decretou falência em 2008, com dívidas superiores a R$ 1,5 bilhão.

Os suspeitos responderão por falsidade ideológica, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e de capitais.

De família espanhola, o pai de Wagner Canhedo Filho chegou ao Brasil ainda criança. Em sociedade com o pai, comprou um caminhão quando jovem e começou a fazer entregas no interior do Paraná, onde sua família havia se estabelecido. Não tardou para que ele estivesse à frente de uma pequena frota de caminhões.

Na década de 50, Wagner Canhedo mudou-se para o que viria a ser Brasília e ganhou dinheiro na construção da cidade. Ergueu um conglomerado que incluía a transportadora Wadel e a empresa de transporte público Viplan, entre outras empresas. Em 1990 comprou a Vasp em uma operação polêmica. Diz-se que Paulo César Faria, ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Melo trabalhou nos bastidores para que Canhedo comprasse a companhia. Também se aventurou no agronegócio, com a compra da fazenda Piratininga (GO).

Nos anos 2000, a Vasp se afundava em dívidas – estima-se que a cifra se situe entre R$ 3,5 bilhões e R$ 5 bilhões - e acabou pedindo recuperação judicial. Em 2008, foi decretada sua falência. Os negócios de Canhedo desandaram, com sucessivas ações trabalhistas que pediam a penhora de seus bens. Em 2013, chegou a ser preso por sonegação fiscal mas foi solto dias depois após pagar a dívida de R$ 1,2 milhão. Ontem, voltou a ser detido, dessa vez por suspeita de fraude.

O GLOBO tentou contato com Canhedo ou com advogados dele por intermédio da administração do Hotel Nacional, mas não obteve sucesso. Uma auxiliar do empresário disse que Canhedo não estava e que só passaria dados sobre os advogados dele por e-mail. O jornal refez o pedido por e-mail, mas nem assim obteve resposta.

Nota da redação: Em função de um erro, a versão original da matéria identificava Wagner Canhedo Filho como seu pai, Wagner Canhedo.