Indicador do BC aponta queda de 0,81% na economia no 1º trimestre

 

Famílias com renda mais apertada e indústria retraída pela queda do consumo fizeram com que a economia encolhesse 0,81% no primeiro trimestre deste ano. Somente em março, a retração foi ainda mais forte: 1,07%, de acordo com os cálculos do Banco Central, divulgadas nesta quinta-feira. As contas já consideraram as mudanças metodológicas do cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) feitas pelo IBGE. Como os economistas do mercado financeiro não sabiam como o BC atualizaria o método de calcular o IBC-Br, o índice de crescimento criado pela autarquia, fizeram projeções com os dados antigos.
A aposta média geral dos analistas era de uma retração econômica de 0,7% nos três primeiros meses do ano. As previsões variavam entre uma queda de 0,4% a 1% da atividade econômica. Essas expectativas foram feitas depois de o IBGE divulgar, na semana passada, que o comércio registrou uma queda de 0,8% nas vendas no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado: o pior resultado dos últimos 12 anos. Com menos dinheiro no bolso — por causa do aumento do desemprego, desaceleração do crescimento da renda, inflação que corrói cada vez mais o salário do trabalhador e juros mais altos — as famílias consomem menos.

Na hora de calcular o IBC-Br, a autoridade monetária também usa o desempenho da indústria. Com o consumo em queda, os empresários ficam mais cautelosos e produzem menos. A produção do setor caiu nada menos que 5,9%.

O Banco Central revisou para cima o desempenho do IBC-Br em fevereiro: de crescimento de 0,36% divulgado anteriormente, para alta de 0,59%. Já o índice de janeiro foi recalculado para baixo: de contração de 0,11% para recuo de 0,30%.

Nos últimos 12 meses, o índice do BC revela que a economia brasileira encolheu 1,18%. É praticamente o resultado que os analistas esperam para o ano.

Segundo o diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco, Octavio de Barros, os dados do IBC-Br de março reforça a expectativa de retração do PIB — nos dados oficiais — no primeiro trimestre. Ele reforçou, num comunicado enviados aos clientes nesta manhã, que a queda de 0,8% nos três meses está em linha com a estimativa do banco.

Para o economista do Banco Espírito Santo Flávio Serrano, as mudanças metodológicas feitas pelo BC só alteraram levemente os dados, mas não mudam a história vivida pelo país: a maior contração da atividade econômica vista desde os anos 90. Ele lembra que na crise de 2009, o país teve recessão, mas a recuperação veio logo.

— É importante destacar que tem uma revisão de dados do BC. Mudou um pouco os dados, mas não muda a história. Temos um quadro de desaceleração que está se agravando — frisou o analista que espera uma retração ainda maior no segundo trimestre deste ano e uma recuperação mais lenta depois:

— A gente sabe que o negócio está feio. É um ajuste profundo na economia. O segundo semestre deve ser melhor que o primeiro, mas não quer dizer que vai ser bom. Vai ser muito ruim. Pode ser zero de crescimento ou uma queda mais leve.

APOSTAS PARA O DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA

De acordo com pesquisa que o BC faz semanalmente com economistas das principais instituições financeiras do país, a previsão é que a economia brasileira encolha 1,2% neste ano. A deterioração do cenário vista desde o início do ano foi acelerada. Fruto de juros mais altos para conter a inflação que está cada vez mais longe do teto da meta de 6,5%, desemprego maior, possibilidade de racionamento de energia, crise hídrica, entre outros problemas.

Com as mudanças metodológicas, os economistas devem revisar suas projeções daqui para frente já com o dado revisado do primeiro trimestre. O “PIB do BC” serve como um indicador antecedente do comportamento da economia porque é mais simples e calculado de forma mais rápida que o dado oficial do IBGE.

DIFERENÇA PARA O CÁLCULO OFICIAL

Tanto o IBC-Br quanto o PIB são indicadores que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O IBC-Br foi criado pelo Banco Central para ser uma referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom), uma vez que o dado oficial do PIB é divulgado pelo IBGE com defasagem.

O indicador do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).

Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria, os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de exportações e importações.

O IBC-Br não pode ser considerado uma prévia do PIB porque o dado oficial é muito mais complexo. É o que os economistas chamam de proxy, uma aproximação. As divergências com o número do IBGE refletem-se nos números. O número costumava a ter resultados próximos ao dado oficial, mas tem apresentado resultados descolados por causa das diferenças metodológicas.

Economistas apontam, no entanto, que o IBC-Br indica a tendência da atividade econômica, o que ajuda a dar uma avaliação geral do PIB.