Jaques Wagner defende mais recursos para o Ministério da Defesa
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, afirmou nesta quinta-feira que o orçamento do setor é baixo e precisa aumentar. Segundo ele, a Defesa é o sétimo ministério com mais verbas, mas o Brasil ainda gasta pouco na comparação com outros países. De acordo com Wagner, é preciso investir na Defesa para garantir a paz, defender o patrimônio nacional, fortalecer a democracia e produzir desenvolvimento socioeconômico. O ministro participa, nesta na manhã, de audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado.
— Estamos com 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto, que é a soma de tudo que é produzido no país), quando na América do Sul a média é de 2,3%, e nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é de 2,5%. Estamos abaixo e precisamos avançar nisso, se nós quisermos efetivamente fazer o desenvolvimento que pretendemos — afirmou.
O momento, no entanto, não é favorável. Os cortes no Orçamento que o governo anunciará amanhã devem ficar um pouco acima dos R$ 70 bilhões. Para se adequar ao contingenciamento, as Forças Armadas negociarão contratos e prazos. Segundo uma fonte, os projetos estratégicos não serão totalmente paralisados, mas haverá forte redução no ritmo dos investimentos. O ministro não mostrou desconhecimento dessa realidade, mas disse que saberá apenas na sexta o tamanho do corte. De qualquer forma, afirmou os programas do ministério — como a aquisição dos caças suecos Gripen, em que há também transferência de tecnologia para o Brasil — não serão descontinuados
— É um dado de realidade. O importante é a gente não descontinuar, porque nós demoramos muito tempo a lançar as bases de uma indústria de defesa. E agora nós não vamos descontinuar por conta de um problema que eu considero que é conjuntural. Temos uma conjuntura de ajuste fiscal, que não é definitiva. E os programas que nós estamos fazendo são definitivos — disse o ministro.
O ministro também defendeu que o país aumente sua participação no mercado da indústria bélica. Segundo o Ministério da Defesa, o Brasil exporta US$ 3 bilhões por ano no setor, frente a um mercado mundial que chega a US$ 1,5 trilhão.
— A indústria de Defesa movimenta US$ 1,5 trilhão no mundo. E nós precisamos ocupar parte dessa fatia. Nós não queremos ser compradores. Queremos ser produtores e compradores — afirmou o ministro.
Wagner pregou ainda a necessidade de o país ter Forças Armadas preparadas. O objetivo disso, segundo ele, é justamente manter a paz e defender os recursos naturais brasileiros, como o petróleo do pré-sal.
— Aqui não se trata de preparar para a guerra, mas para a paz. Não podemos nos desguarnecer. Não queremos ir para a briga. Mas é preciso que os vizinhos e todos saibam que estamos aqui — disse Wagner.
Ele destacou que o país não está em guerra com os vizinhos, mas apontou outro tipo de ameaça que vem das fronteiras:
Wagner criticou o uso constante das Forças Armadas em operações conhecidas como Garantias da Lei e da Ordem (GLOs), como é o caso da ocupação do Complexo da Maré no Rio de Janeiro. Segundo ele, a Maré custa R$ 1 milhão por dia. A ocupação do Complexo do Alemão, também no Rio, custou mais de R$ 200 milhões. Em 2014, Wagner, como governador da Bahia, já pediu a presença de militares no estado quando houve greve da Polícia Militar (PM), mas disse que essa era uma situação excepcional.
— Eu prefiro investir na fronteira do que em GLO. Fronteira é meu papel, GLO não — afirmou Wagner.
Sobre os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o ministro afirmou que 37 mil militares trabalharão no evento. Há uma preocupação com a segurança do evento, que atrairá atletas e espectados do mundo inteiro.
— Se alguém quiser fazer uma ameaça terrorista, é um palco privilegiado para ter repercussão. Não temos esse histórico (de terrorismo), mas não podemos deixar até porque os países que vão estar aqui são objeto de desejo de terroristas. Então todo credenciamento será por um critério mais severo — afirmou o ministro.
UCRÂNIA
O ministro também confirmou que a parceria com a Ucrânia, para lançamento de satélites na base de Alcântara, no Maranhão, será desfeita. Segundo ele, não houve pressão do governo russo.
— Às vezes o pessoal vê chifre em cabeça de cavalo. Não tem nada a ver com o conflito entre Ucrânia e Rússia. Isso foi tomado porque se viu que não estava prosperando do ponto de vista tecnológico — disse Wagner.
O ministro acrescentou que não há previsão de substituição da pareceria até o momento, mas não descartou um acordo com os Estados Unidos. Antes da Ucrânia, foi cogitada uma parceria com os Estados Unidos, mas os termos foram criticados por quem via violação da soberania brasileira.
— É possível a reabertura do acordo com os Estados Unidos. Não tenho preconceito. Depois que nós todos assistimos na televisão, com a graça de Deus, o aperto de mão do presidente Obama na Conferência das Américas com o presidente de Cuba, é uma sinalização para que não tenhamos esses preconceitos, esses fantasmas na cabeça. O tempo da Guerra Fria já se foi tem tempo — firmou o ministro.
REFORMA POLÍTICA
Jaques Wagner pediu que o Congresso vote a reforma política, mesmo que limitada a poucos pontos, como o financiamento de campanha, as coligações partidárias e o horário eleitoral gratuito. Ele defendeu mudanças na forma de calcular o tempo de TV de candidatos a cargos no Executivo, como é o caso de prefeitos, governadores e presidente da República. Hoje, todos os partidos da coligação são considerados na hora de dividir o tempo. Isso faz com que os candidatos busquem o apoio de várias legendas, mesmo que pequenas, para incrementar o espaço que terão na TV. Wagner quer que sejam considerados apenas os partidos do candidato e de seu vice.
Sem citar especificamente escândalos de corrupção, ele afirmou que há um sofrimento em decorrência no noticiário político recente. Mas não deixou de defender a atividade política.
— Apesar do sofrimento em torno do noticiário, em torno política recente, eu continuo dizendo que mais nobre das atividades humanas é a política. Por ela, a gente coloca um país, uma cidade, uma comunidade ou para cima ou para baixo — afirmou Wagner.