CAROLINA BRÍGIDO E EVANDRO ÉBOLI
STF autoriza a quebra do sigilo telefônico do senador Valdir Raupp
Senador é alvo de inquérito da LavaJato; executivos se calam na CPI
BRASÍLIA O ministro do Supremo Tribunal Federal ( STF) Teori Zavascki, relator dos inquéritos sobre envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobras investigado na Operação LavaJato, determinou a quebra do sigilo telefônico do senador Valdir Raupp (PMDBRO). As informações vão instruir a apuração que tramita no STF. Também foi quebrado o sigilo telefônico de uma assessora dele, Maria Cleia Santos Oliveira, do doleiro Alberto Youssef e de dois executivos afastados da Construtora Queiroz Galvão, Othon Zanoite e Idelfonso Colares. Todos terão o sigilo quebrado no período entre 1º de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2010. Os dados foram pedidos pela Polícia Federal. Em parecer enviado ao STF, o procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, concordou com o pedido. A decisão foi tomada no último dia 21, mas só foi divulgada ontem.
Em depoimento prestado no acordo de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef disse que intermediou o pagamento de R$ 500 mil para a campanha de Raupp ao Senado em 2010. Segundo o doleiro, o valor teria saído da cota do PP e teria sido obtido por meio de contratos superfaturados da Petrobras. O exdiretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, afirmou, em sua delação premiada, que “parte do dinheiro desviado e que fora acrescentado aos contratos da Petrobras foi repassado para a campanha do senador Valdir Raupp (PMDBRO) em 2010”. Por esses motivos, o STF autorizou Janot a abrir inquérito para investigar o senador. Ao GLOBO, Raupp negou acusação e disse que não tem nada a temer:
—Estou tranquilo.
EXECUTIVOS SE CALAM NA CPI
Ontem, munidos de habeascorpus concedido pelo ministro Celso de Mello, do STF, cinco executivos do grupo Schahin, que integrou cartel investigado na operação LavaJato, ficaram calados em sessão da CPI da Petrobras. Todos da mesma família, os Schahin se recusaram a responder 189 perguntas das 192 elaboradas pelos parlamentares.
— Por orientação dos meus advogados, permanecerei em silêncio — repetiam, a cada pergunta lida. A primeira resposta só saiu quando o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTBSP) perguntou a idade de
Salim Taufic Schahin, que respondeu ter 75 anos.
— Aleluia! — reagiu o parlamentar, celebrando o fato de ter respondido.
O grupo Schahin atua em vários ramos econômicos, do setor financeiro (têm um banco) a grandes obras de engenharia. Os parlamentares da CPI listaram que o grupo detém cerca de 200 empresas no Brasil e cem no exterior. Teria ainda, depositado em contas em vários países no exterior, cerca de US$ 500 milhões (R$ 1,6 bilhão).
SESSÃO TEM BATEBOCA
A sessão foi marcada pela irritação dos parlamentares com a resistência dos depoentes e também por um bateboca entre deputados e dois advogados de defesa. Primeiro, os deputados acusaram Carlos Eduardo Schahin de debochar da comissão ao não olhar para eles no momento que faziam pergunta.
Depois, parlamentares implicaram com o fato de os advogados estarem se comunicando no celular com outras pessoas.
— Peço a assessoria para checar se os advogados estão falando via WhatsApp com os outros depoentes, que estão na sala — demandou Arnaldo Faria de Sá.
Os advogados tiveram pedido para falar negado e protestaram.
— De acordo com o STF, é prerrogativa dos advogados usarem seus instrumentos de trabalho. Estou me comunicando com meu escritório em Curitiba. Não admito que a defesa seja coagida — disse o advogado Eduardo de Oliveira Filho.