Título: Homens apoiam a luta das margaridas
Autor: Machado, Roberta; Paranhos, Thaís
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2011, Cidades, p. 39

A mobilização das margaridas no Parque da Cidade começou ainda de madrugada. Às 4h de ontem, elas começaram a formar uma fila para receber o café da manhã. Assim que terminaram, apressaram-se em desfazer o acampamento montado em tendas nos estacionamentos e levaram a bagagem para os ônibus estacionados no local. Cerca de uma hora antes do início da marcha, centenas de mulheres esperavam a saída do protesto equipadas com faixas, cartazes e chapéus de palha enfeitados com flores, que viraram marca registrada do movimento.

O grupo começou a caminhada pontualmente às 7h, acompanhado por quatro trios elétricos e uma pesada escolta policial. No total, 3 mil homens foram destacados para a segurança do evento, entre eles funcionários do Departamento de Trânsito (Detran) e das polícias Civil e Militar, que utilizaram ao todo 86 veículos. As margaridas saíram do Parque da Cidade, por volta das 7h30, quando o trânsito da Via S1 estava completamente interditado para a travessia do público. A via ficou fechada até as 8h50.

O trânsito no Parque da Cidade estava interditado desde o dia anterior para abrigar os 1.520 ônibus que trouxeram as manifestantes de seus estados. A intenção dos organizadores era liberar o sentido anti-horário a partir das 5h30, mas a grande concentração de pessoas e de coletivos manteve a pista fechada até a saída de todas as margaridas. A marcha seguiu até o Congresso Nacional pelo Eixo Monumental. Três faixas da via ficaram fechadas desde a madrugada. Durante a passagem das trabalhadoras rurais, um cordão de isolamento formado de policiais militares garantia a segurança das manifestantes.

Antes das 10h, as primeiras margaridas apontavam no destino final, enquanto o último bloco ainda deixava o acampamento. Durante o percurso, muitas que estavam hospedadas no setor hoteleiro se juntavam à multidão. As últimas margaridas chegaram ao ponto de encontro por volta das 11h, quando algumas manifestantes já deixavam a concentração no gramado do Congresso. A partir daí, os cones foram retirados da pista, liberando completamente o trânsito. O grupo retornou ao acampamento do Parque em ônibus particulares.

Na volta, o cansaço estampava o rosto das margaridas. Muitas aproveitaram para arrumar as malas e almoçar antes da chegada da presidente Dilma. A sensação de dever cumprido se espalhou pelo Parque da Cidade. Rozelina Munhoz, 51 anos, moradora de Campo Alegre, em Santa Catarina, quer ver agora os resultados da manifestação. "Esperamos que o nosso sacrifício valha a pena. Encaramos 30 horas de viagem para lutar pelo trabalhador rural, principalmente no que diz respeito à aposentadoria. Sabemos que muitos lutam a vida inteira e não conseguem se aposentar com dignidade", alertou. Ela estava na companhia de Erna Staffe, 51, e Marli Fuckner, 60.

Cravos Entre as margaridas, também havia os "cravos", homens que fizeram parte da marcha para acompanhar suas companheiras ou apenas para apoiar o movimento. O agricultor Adolfo de Morais, 61 anos, veio de Aracati (CE) com a mulher, Ellisabete. "Evitamos trazer homens para não descaracterizar o movimento. Mas hoje (ontem) eu sou margarida, afinal, nossa luta é a mesma. Em um país em que as mulheres são maioria, elas deveriam ter ao menos os mesmos direitos", comentou Adolfo, que usava o característico chapéu adornado com uma flor de tecido. "As flores também representam os trabalhadores. Estamos aqui para defender os direitos de homens e mulheres", ressaltou Vicente Cosme Florenço, 60 anos, também agricultor de Aracati.