O globo, n. 29871, 20/05/2015. País, p. 8

STF quebra sigilo bancário de advogado ligado a Renan

CAROLINA BRÍGIDO E VIVIAN OSWALD*               *Correspondente

 

Em Londres, ex-diretor da SBM diz à CPI que CGU ‘suprimiu’ informações

-BRASÍLIA E LONDRES- O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, determinou a quebra do sigilo bancário do advogado Paulo Roberto Baeta Neves e do deputado Aníbal Gomes (PMDB-AL). Segundo reportagem do GLOBO, o escritório de Baeta Neves recebeu, em setembro de 2008, depósito de R$ 5,7 milhões. Em depoimento, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que o valor pode ter sido repassado como propina a Aníbal Gomes e ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), investigados por suspeita de fraudes na estatal. Renan e Aníbal negam. A família de Baeta disse que ele está doente e não pode falar do assunto.

O período da quebra de sigilo do advogado vai de 20 de setembro de 2008 a 20 de maio de 2011. Aníbal e o empresário Luís Carlos Batista Sá também tiveram sigilos bancários quebrados: de 20 de setembro de 2008 a 31 de dezembro de 2014. Zavascki ainda quebrou o sigilo fiscal de Aníbal e Sá. A decisão é do dia 13 e faz parte do inquérito que investiga o envolvimento de Renan e Aníbal no escândalo.

Em delação premiada, Costa disse que os R$ 5,7 milhões podem ter sido pagos de propina por um acordo entre a Petrobras e o Sindicato dos Práticos. O exdiretor da Petrobras afirmou que receberia R$ 800 mil se ajudasse na correção da tabela dos práticos e que as cifras dos demais envolvidos seriam maiores. O pagamento seria via escritório de Baeta Neves, que atendia o sindicato.

“INFORMAÇÕES-CHAVE”

O depósito milionário teria sido o motivo da ruptura da sociedade de Baeta Neves com Eduardo Ferrão. Os dois se desentenderam quando os práticos comemoravam o acordo de R$ 40 milhões com a Petrobras. Em 23 de setembro de 2008, Ferrão teria cobrado explicações do sócio sobre o depósito milionário. Depois, descobriu que a transação tinha como origem os práticos.

Em Londres, uma comitiva de oito deputados da CPI da Petrobras ouviu ontem depoimento do ex-diretor da holandesa SBM Offshore Johnatan Taylor. Ele voltou a dizer que as informações que deu à Controladoria Geral da União sobre pagamento de propinas na Petrobras não foram reveladas até o fim da eleição de propósito. Entre os papéis, haveria evidências de que propinas eram pagas via lobista Julio Faerman a funcionários da Petrobras. Após o encontro, a CPI anunciou que pedirá a prisão de Faerman, tido como “fundamental”. Seu paradeiro é desconhecido.

Taylor entregou aos deputados contratos da SBM com Faerman e cerca de 200 e-mails trocados dentro na empresa holandesa sobre o caso. Além de contar como Faerman atuava, o exexecutivo revelou como US$ 31 milhões pagos pela Petrobras a partir de contratos com a SBM foram parar em empresa sediada em paraíso fiscal no nome do brasileiro. 

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Empresários relatam reunião sobre repasse a Cabral e Pezão

Depoimentos foram à PF; governador e antecessor negam irregularidades

-BRASÍLIA- Empresários ouvidos pela PF confirmaram a ocorrência de uma reunião para acertar repasses de recursos à campanha de Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) a governador e a vice-governador do Rio de Janeiro em 2010. Os depoimentos integram o conjunto de diligências feitas como parte do inquérito que corre no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e investiga a participação dos dois peemedebistas no desvio de recursos da Petrobras.

Segundo a delação do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, a reunião ocorreu em um hotel do Rio e serviu para definir repasse de R$ 30 milhões, em caixa dois, à campanha. O dinheiro seria propina de contratos de obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Por meio de sua assessoria, Cabral reiterou “seu repúdio a essas mentiras” e afirmou que nunca solicitou ao delator apoio financeiro. “Todas as eleições que disputei tiveram suas prestações aprovadas pelas autoridades competentes”, afirmou. Segundo sua assessoria, esse também foi o teor do depoimento que Cabral prestou à PF como parte de suas diligências.

Pezão também criticou o depoimento de Costa. “O governador disse estar certo de que a investigação vai comprovar que a acusação é falsa e que continua à disposição das autoridades para dar esclarecimento sobre suas ações”, afirmou sua assessoria.

Além de empresários e Cabral, a PF quer ouvir pessoas que participaram da citada reunião. O ministro Luis Felipe Salomão, relator dos autos, determinou que a PF recolha documentos, imagens e registros de entradas e saídas de um hotel em Ipanema, onde, no primeiro semestre de 2010, o encontro teria ocorrido.

Ontem, a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB), também investigada, prestou depoimento de cerca de uma hora na PF. Segundo seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, ela negou participação em irregularidades.

As acusações contra Roseana foram extraídas de depoimento de Costa. Ele afirmou que, em 2010, mandou entregar R$ 2 milhões em espécie à campanha de reeleição da governadora, a pedido do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Kakay nega qualquer contato de sua cliente com Costa.