R$ 285 bilhões para melhorar a imagem

Correio braziliense, n. 18998, 01/06/2015. Política, p. 4

Paulo de Tarso Lyra

A virada de página esperada pelo governo para junho, quando serão lançados vários pacotes dentro da “agenda positiva”, custará, pelo menos, R$ 285 bilhões aos cofres públicos, segundo levantamento feito pelo Correio com representantes de setores que esperam ser beneficiados pelas medidas. Na prática, isso significa que, para recuperar a popularidade perdida e o discurso sem credibilidade perante o eleitorado e a militância petista, a presidente Dilma Rousseff terá de gastar, no mínimo, quatro vezes o valor cortado do Orçamento há duas semanas — R$ 69,9 bilhões.

Além de tentar reverter no imaginário popular a percepção de um governo inerte – que derrubou a aprovação da presidente para pouco mais de 13% – Dilma Rousseff também corre para anunciar algumas ações antes do Congresso do PT, marcado para 11 a 13 de junho. A estratégia é mostrar aos militantes petistas que o governo tem uma agenda além do ajuste fiscal e recuperar também a simpatia do partido, que anda afastado do Planalto. “Precisamos sair desta pauta negativa, mostrar que nós temos coisas boas para mostrar e temos uma agenda favorável para retomar o crescimento e os empregos”, defendeu o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Um aliado peemedebista ironiza: “Muitos destes planos, como o Pronaf e o Plano Safra, são lançados todos os anos. Não adianta criar um Cabo Canaveral para lançar foguetes repaginados”, criticou, numa alusão à estação de lançamentos da Nasa.

O primeiro anúncio está marcado para a terça-feira – o Plano Safra 2015. O setor, que tem sido o único da atividade econômica a ter resultados positivos, espera, ao menos, a repetição do montante do ano passado: R$ 160 bilhões. “O Plano Safra pode ser um divisor de águas do Executivo”,disse o diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni.

Ele admite que o ideal seria um valor maior do que o do ano passado, especialmente porque os juros cobrados pelo empréstimo devem ser mais duros – próximo dos 9%, ante os 6,5% do ano passado. “Mas se tivermos o mesmo montante de recursos de 2014 será uma sinalização do governo de que pretende manter os incentivos para um setor que tem dado uma contribuição importante para o país”, completa Luiz.

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O governo ainda corre contra o tempo para ajustar o que pretende transformar na grande vitrine de junho: o Plano de Concessões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias a ser anunciado no próximo dia 9, envolvendo um montante próximo de R$ 100 bilhões. “Teremos uma grande solenidade no Palácio do Planalto e intensificaremos os contatos com os governadores cujos estados serão beneficiados com as obras”, adiantou ao Correio o ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva. O ministro disse que a intenção é que os ministros das áreas envolvidas no pacote viajem para apresentar as obras nos estados.

Outra iniciativa a ser lançada no mês que vem é o Plano Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), voltado para os pequenos produtores – eleitores fieis do PT. “A presidente já nos disse que serão R$ 25 bilhões. Queríamos R$ 30 bilhões e a correção mínima com as perdas da inflação levaria o valor para R$ 27 bilhões”, reclamou o secretário de Meio Ambiente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rovaris.

Uma das promessas repetidas durante a campanha eleitoral de 2014, a terceira etapa do Minha Casa Minha Vida deve ficar para o fim de julho ou início de agosto, segundo estimativas do ministro das Cidades, Gilberto Kassab. “Contrataremos três milhões de casas até 2018”, disse ele ao Correio. Kassab não teme que os cortes orçamentários prejudiquem o programa. “Como ele se estende ao longo dos próximos quatro anos, o que não puder ser feito neste ano transferiremos para os demais”, justificou ele. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, disse que não há ainda previsão de recursos para o programa. Isso dependerá da forma de financiamento para a construção das novas unidades.

“Como ele (Minha Casa, Minha Vida), se estende ao longo dos próximos quatro anos, o que não puder ser feito neste ano transferiremos para os demais”
Gilberto Kassab, ministro das Cidades

R$ 160 milhões
Expectativa de recursos do setor do agronegócio para o Plano Safra 2015

Para sair do buraco
Governo vai lançar, a partir de junho, pacotes para tentar reverter a onda de pessimismo do eleitorado

Plano Safra
Linha de financiamento voltada para os grandes produtores rurais. Valor estimado: R$ 160 bilhões

Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf)
Linha de financiamento voltada para os pequenos produtores rurais. Valor estimado: R$ 25 bilhões

Plano de Concessões
Anúncio de parcerias com a iniciativa privada para obras em portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Valor estimado: R$ 100 bilhões

Terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida
Contratação de mais de 3 milhões de residências populares. Valor estimado: não há ainda dados consolidados

Plano de exportações
Ações do governo para reequilibrar a balança comercial brasileira. Valor estimado: ainda não há dados consolidados