Dilma, Renan e tucanos discursam nas redes

Isadora Peron

Rafael Moraes Moura

 

A inédita decisão da presidente Dilma Rousseff de não fazer pronunciamento em rede nacional de rádio e TV no Dia do Trabalho gerou uma espécie de “guerra dos vídeos” nas redes sociais. A presidente decidiu utilizar apenas a internet para mandar mensagens no Primeiro de Maio. Mas a oposição tucana e até um aliado governista descontente com o Palácio do Planalto utilizaram o mesmo canal para atacar a presidente e mandar recados ao governo.

Nas mensagens postadas em páginas oficiais, a presidente voltou a criticar a proposta de terceirização irrestrita da mão de obra,

Para não deixar a petista falar sozinha, o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), divulgou em seu Facebook um vídeo no qual classificou o Primeiro de Maio como “o dia da vergonha, o dia em que a presidente Dilma se acovardou e não teve coragem de dizer aos trabalhadores brasileiros por que eles vão pagar o preço mais duro desse ajuste”.

O PSDB também preparou três vídeos com o título de “Dilma transforma o Dia do Trabalho em Dia da Mentira”. As gravações reproduzem o pronunciamento que a presidente fez na TV no ano passado para comemorar a data e comparam o discurso da petista com reportagens sobre a situação da economia do País.

Em pé de guerra com o Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também usou as redes sociais para divulgar um vídeo gravado pela TV Senado. Na peça, Renan sugere a criação de um “pacto em defesa do emprego” e um compromisso entre governo e Legislativo para evitar a aprovação pelo Congresso de medidas prejudiciais aos trabalhadores.

O discurso contraria o Planalto, que trabalha pela aprovação das medidas provisórias que tornam mais rigorosas as regras para acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários com o objetivo de cumprir o ajuste fiscal.

“O Congresso Nacional está e sempre estará ao lado dos trabalhadores, e contra todos aqueles que, venham de onde vierem, tentarem impor aos trabalhadores, aos mais pobres, mais sacrifício, sobretudo neste momento que a economia não vai bem”, disse Renan no vídeo.

Anteontem (quinta-feira), Renan classificou “como uma coisa ridícula” a decisão da presidente de não discursar em rede nacional no Dia do Trabalho. Para o peemedebista, Dilma descartou o pronunciamento “porque não tem o que dizer”.

A presidente foi alvo de “panelaços” em diversas cidades do País na última vez em que utilizou a cadeia de rádio e TV para um discurso, em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher.

‘Panelofobia’

Ontem (sexta-feira), Dilma usou os canais oficiais do Palácio do Planalto no Facebook e no Twitter para reiterar as críticas à proposta de terceirização ampla, das chamadas atividades meio e fim, aprovada pela Câmara dos Deputados.

Mas embora tenha afastado o risco de novos panelaços, a opção pelas redes sociais em vez dos pronunciamentos na TV não blindou totalmente a petista de críticas. Nas páginas do Planalto, internautas deixaram mensagens contra a presidente. Houve afirmações como “panelofobia deveria ser crime!”, “só a renúncia lhe resta, Dilma” e “Fora Dilma Rousseff”. Até o início da noite, os três vídeos de Dilma haviam obtido 280.907 visualizações dos internautas.

Em um dos vídeos, Dilma afirmou que a regulamentação do trabalho terceirizado precisa “manter a diferenciação entre atividades-fim e meio, nos vários setores produtivos”, repetindo a fala que havia feito anteontem (quinta-feira) em reunião com representantes de centrais sindicais.

O Palácio do Planalto publicou três curtos vídeos da presidente, comentando a terceirização, a política de valorização do salário mínimo e a repressão a manifestações de trabalhadores.

A presidente disse também que o salário mínimo cresceu 14,8% acima da inflação no seu primeiro mandato, o que asseguraria o poder de compra do trabalhador. “Mais de 45 milhões de trabalhadores e aposentados são beneficiados com essa política do meu governo”, afirmou.

Ao todo, as gravações somam 4 minutos e 9 segundos. Na véspera do Dia do Trabalho, em 2014, Dilma falou por 12 minutos em pronunciamento veiculado em cadeia nacional.