Título: Wagner Rossi já não cabia no ministério
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Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2011, Opinião, p. 32

Diante da flagrante infração ao Código de Conduta da Alta Administração Federal pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que admitiu ao Correio usar jato de empresa do agronegócio, era mais do que esperada a saída dele do cargo.

Afinal, a presidente Dilma Rousseff tem sido rígida com casos de desvios éticos no governo. Ainda que "em raras ocasiões", como disse o então titular da pasta, é inadmissível que servidor aceite favores de particulares que tenham claros interesses em decisões que porventura venha tomar.

No artigo 7º, o Código é claro: "A autoridade pública não poderá receber salário ou qualquer outra remuneração de fonte privada em desacordo com a lei, nem receber transporte, hospedagem ou quaisquer favores de particulares de forma a permitir situação que possa gerar dúvida sobre a sua probidade ou honorabilidade".

O impedimento não poderia ser mais explícito, não deixando dúvida quanto ao mau comportamento de Rossi, agravado pela revelação de que a carona se estendia ao menos a um dos filhos dele, Baleia Rossi, deputado estadual pelo PMDB paulista. Mais: há fortes indícios de favorecimentos ao proprietário do jato, o Grupo Ourofino, cujos negócios prosperam com conquistas recentes na área governamental.

Exemplo é a autorização concedida pela pasta para que a empresa comercialize vacinas contra a febre aftosa. Mas não é só. Sócio de uma das subsidiárias da companhia, Ricardo Saud, responsável pela área de cooperativas agrícolas, despachava no mesmo andar do ministro. Poderoso, indicou aliados para departamentos que cuidam justamente da política de combate à febre aftosa.

No combustível produzido por esse caldeirão em que mistura suspeita de público com privado se eleva a ponto de fervura, o ministro decolava no Embraer Phenom da Ourofino, cujo capital igualmente ia às alturas: de R$ 100 mil em 2004, tem patrimônio hoje estimado em R$ 44 milhões. Nota-se, portanto, a necessidade de investigações do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Congresso Nacional para que as relações se tornem transparentes perante a sociedade.

Ou seja, a renúncia ¿ a pedido ou por determinação da presidente, pouco importa ¿ não encerra o caso. Rossi estava sujeito a advertência, censura ou exoneração. Como se encontrava no caminho da faxina patrocinada por Dilma, era previsível que não se sustentaria. Desvios éticos devem mesmo ser abominados e corrigidos de imediato.

Louve-se a rapidez no desfecho do caso, sinal da dimensão da disposição governamental para a limpeza exigida por um contribuinte cansado de constatar a carência dos serviços públicos básicos, o desperdício e o desencaminhamento da pesada carga tributária a que está sujeito. Wagner Rossi havia sido herdado da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, tendo assumido o cargo em março de 2010.