PT pede diálogo e ainda resiste a ajuste

Erich Decat

 

A votação no Congresso na semana passada da Medida Provisórias 665, que restringe o acesso a benefícios trabalhistas e integra o pacote do ajuste fiscal, evidenciou o descolamento entre governo e PT e a resistência dos petistas a aprovar as “medidas impopulares” do Planalto, o que deve dificultar também a votação da MP 664, que altera direitos previdenciários.

Após a aprovação da MP 665, parte da bancada petista reclama que “foi para o sacrifício” – o governo foi obrigado a “enquadrar” petistas por apoio à medida –, fala abertamente sobre a falta de sintonia com o Planalto e indica que a resistência às medidas do ajuste continua.

Integrante da Executiva Nacional do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) considera que, no atual momento, o PT está assumindo uma “nova postura” e precisa “ter voz” no governo. “Claro (que o governo e o PT são coisas distintas). Somos do partido do governo, mas nós queremos opinar nas decisões construídas pelo governo, elas têm que ser dialogadas conosco”, afirmou. “Nós estamos assumindo uma nova postura de diálogo com o governo.”

“O partido não é governo e o governo não é partido”, reclama o ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT-RS).

Para petistas, derrotar o governo na MP 665 foi considerado “uma pá de cal” no governo Dilma Rousseff, que está com baixos índices de popularidade e sofre ataques de aliados no Congresso. E isso teria reflexos profundos ao PT nas eleições de 2016 e, sobretudo, na corrida presidencial de 2018, na qual o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem aparecido como eventual candidato.

Ex-presidente do PT e atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini diz que é preciso saber distinguir governo e PT. “A gente, quando está no governo, sem perder a referência do nosso partido, tem que lembrar que estamos cumprindo missões de governo. Em alguns momentos na Secretaria de Relações Institucionais, eu contrariei o PT, e olha que sou ex-presidente do partido”, afirmou. “Para nós, é sempre duro chegar para o PT e dizer que nesta votação a posição do governo não vai ser a do partido. Mas isso não tem a ver com tentativa de desassociar ou se afastar”, minimizou o ministro.

 

“Somos do partido do governo, mas nós queremos opinar nas decisões do governo, elas têm que ser dialogadas conosco”, afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP)

“Somos do partido do governo, mas nós queremos opinar nas decisões do governo, elas têm que ser dialogadas conosco”, afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP)

Agendas próprias. Em meio às discussões sobre o ajuste fiscal, o partido levou ao ar, na terça-feira, seu programa de rádio e TV sem a participação de Dilma. Na tentativa de explicar a ausência, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou: “O governo possui uma agenda própria, enquanto as questões de conjuntura enfrentadas pelo PT devem ser enfrentadas pelo PT”. “Misturar no cotidiano essas três instituições – um ex-presidente, um partido e um governo de coalizão – seria um erro”, disse. 

Essa nova realidade destoa do momento festivo registrado em fevereiro, no aniversário de 35 anos do PT. “Nós estamos juntos e misturados”, afirmou Dilma na ocasião. Na festa, Lula também ressaltou a simbiose entre partido e governo. “O PT acaba de conquistar o quarto mandato consecutivo na Presidência da República. O PT será o partido mais longevo na história do País”, disse o ex-presidente.

Na época não tinham sido revelados nem a crise econômica em sua extensão nem o descompasso na articulação política. As investigações da Operação Lava Jato também não haviam atingido o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, preso em abril.

 

Presidente evita expor sua imagem

 

A deterioração econômica, a adoção de medidas impopulares, o pessimismo generalizado com os rumos do País, a instabilidade política na relação com o Congresso e a sombra de um impeachment abalaram a imagem da presidente Dilma Rousseff neste início de segundo mandato e a fizeram reduzir sua exposição pública para evitar mais desgastes.

Após desistir de fazer pronunciamento em rede nacional no Dia do Trabalho e não participar do programa de TV do PT, a presidente se viu obrigada a cancelar a ida à cerimônia de comemoração dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, realizada na sexta-feira no Rio de Janeiro, para não ter o risco de enfrentar novas manifestações, vaias e panelaços em um momento em que ela está focada em emplacar uma agenda positiva para melhorar sua imagem. Dilma entrou na redoma.

Para não ser criticada por não prestigiar importante evento que contou com a presença de presidentes em todos os países aliados na Segunda Guerra, Dilma pediu às Forças Armadas que providenciassem, de última hora, solenidade de premiação aos pracinhas brasileiros, no Planalto, longe de ser submetida a qualquer constrangimento ou manifestação.

Isso a despeito de pesquisas internas do PT já terem detectado uma tendência de recuperação na popularidade de Dilma. Os novos números foram recebidos com alívio. Mas a ordem é que todo cuidado deve ser tomado para evitar que os dados criem um falso ambiente de que é hora para maior exposição.

 

No Palanalto, a ordem é que todo cuidado deve ser tomado para evitar que os dados criem um falso ambiente de que é hora para maior exposição  

No Palanalto, a ordem é que todo cuidado deve ser tomado para evitar que os dados criem um falso ambiente de que é hora para maior exposição  

 

No governo, a avaliação é de que, em momentos de dificuldades, o trabalho de recuperação da imagem de Dilma deve ser "dosado". Nesta semana estão previstos dois eventos "teste". Ela vai ao interior de Minas lançar o programa Minha Casa Minha Vida e, mais uma vez, todo cuidado com a exposição ao público está sendo tomado. Na terça, vai ao Rio, em diferentes cerimônias, todas com acompanhamento pelo pessoal que negocia com os movimentos sociais, para garantir a presença de apoiadores e evitar manifestantes, formando um novo colchão de proteção à presidente.

A própria Dilma tentou se defender das acusações de que está evitando se expor a manifestações. Em entrevista, na quarta-feira, explicou que no Dia do Trabalho preferiu se pronunciar "através de um forte, um forte veículo, forte e novo, que é a internet", mas ressalvou que irá "manter esses pronunciamentos também na chamada mídia tradicional: televisão, rádio e tudo". Na homenagem ao Dia das Mães a presidente pretende recorrer de novo às mídias sociais.

Na mesma linha, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, disse que Dilma "não está protegida numa redoma de vidro", ao optar por se comunicar pelas redes sociais. "O local em que ela mais se expõe é nas redes sociais. A rede não tem filtro, não tem mediação, tem anonimato."