O globo, n. 29878, 27/05/2015. País, p. 8

A dura vida de um petista em São Paulo

MARIANA SANCHES

Alguns políticos do partido, como Eduardo Suplicy, são abordados em público e aconselhados a mudar de sigla;
mas outros, como os ex-ministros Mantega e Padilha, já foram ofendidos em hospital e num restaurante

Eduardo Suplicy, secretário de Direitos Humanos de São Paulo, deixava uma pizzaria da qual é frequentador, no Jardim Paulistano, na última segunda- feira, quando a cena aconteceu:

— Fui abordado por um homem que, muito educado, me disse que tinha respeito por mim, mas muitas críticas ao PT. Sugeria que eu deixasse o partido — contou Suplicy: — Não me incomodou. Mas me preocupa que as pessoas ajam com xingamentos e vaias.

A preocupação de Suplicy repousa em três episódios recentes de hostilidade a integrantes do PT. Em duas ocasiões, o ex- ministro da economia Guido Mantega foi xingado e vaiado. Em uma delas, Mantega acompanhava a mulher, em tratamento de câncer, no Hospital Albert Einstein. O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha também foi constrangido em um restaurante. Sem ter chance de resposta, foi hostilizado por causa do programa Mais Médicos.

— Sempre ouvi das pessoas que elas gostavam de mim, mas não do meu partido. A novidade é a intolerância, que uma pessoa não aguente dividir o espaço com você por causa das diferenças políticas — afirmou Padilha.

Não tem sido fácil ser petista em São Paulo, num contexto de impopularidade do governo e de contínuo desgaste do PT com a Operação Lava-Jato.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que ontem lançou um pacote anticorrupção, frequenta restaurantes e teatros nas áreas mais ricas da cidade. Ultimamente, tem sido interpelado por eleitores sobre seu partido. As pessoas sugerem que deixe o PT, mas não chegam a insultá-lo como fizeram com a presidente Dilma Rousseff e com o presidente do PT, Rui Falcão, recebidos por um panelaço quando chegavam ao casamento do médico Roberto Kalil, em São Paulo.

— Isso tudo mostra que o PT sofre um desgaste sem precedentes desde a redemocratização. Talvez o (Fernando) Collor, pessoalmente, tenha passado por situação semelhante. Mas nenhum outro partido viveu isso — diz o cientista político Cláudio Couto, para quem as cenas podem ser repetir na capital paulista, onde o PT enfrenta maior resistência.

Petistas ouvidos pelo GLOBO negam que mudaram ou mudarão seus hábitos ou suas convicções. Confiam que a hostilidade passará. Ou torcem para não serem reconhecidos em público. Alvo na investigação Lava-Jato, o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) pode contar com o anonimato. Semana passada, almoçou sem ser perturbado num restaurante nordestino na capital.