Sujeira provocou infecções

Correio braziliense, n. 19007, 10/06/2015. Cidades, p. 25

A falta de higiene provocou a endemia de superbactérias que atinge toda a rede pública de saúde. Ontem, durante o anúncio do Plano de Enfrentamento da Resistência Bacteriana, o secretario de Saúde, João Batista de Sousa, reconheceu que “faltaram insumos de higiene e desinfecção nos hospitais”. Apesar de descartar um surto, o titular da pasta traçou três ações básicas para coibir a proliferação de micro-organismos multirresistentes. As principais mudanças serão quanto ao uso dos antibióticos e à identificação de pacientes infectados (veja No combate). O planejamento passa a valer a partir de hoje e não há previsão de quanto custará aos cofres públicos. Hoje, o subsecretário de Atenção à Saúde, José Tadeu Palmieri, e a infectologista-chefe do GDF, Maria de Lourdes Lopes, prestam depoimento na 1ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT).

Segundo João Batista, o plano não elimina as superbactérias, mas melhora a situação atual. “Nós não vamos resolver essa questão, vamos controlar o avanço de bactérias multirresistentes em hospitais públicos”, esclareceu. A partir de agora, farmacêuticos fiscalizarão a dosagem e o tipo do medicamento a fim de uma aplicação mais racional. Além disso, todas as pessoas que passarem pelas unidades de terapia intensiva (UTI) serão submetidas a testes para a constatação da presença de bactérias no organismo.

Segundo a secretaria de Saúde, capotes, luvas, gorros, além de itens de limpeza e antibióticos, estão garantidos pelos próximos seis meses. Porém, atualmente, as prateleiras da rede pública têm a carência de cinco antibióticos derivados da penicilina. “Não são os usados para o combate a infecções graves”, advertiu o secretário.

Longe de ser uma situação confortável para os brasilienses, João Batista disse não entender o pânico da população. “Essa é uma situação normal para os hospitais nos últimos quatro anos”, justificou. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde 20 de abril foram três notificações sobre o aumento expressivo desses organismos na rede.

Investigações

Enquanto as medidas são aplicadas, o subsecretário Tadeu Palmieri e a infectologista Maria de Lourdes darão esclarecimentos, hoje à tarde, ao promotor de Defesa da Saúde, Jairo Bisol. Ele quer saber detalhes sobre o controle de bactérias, além de informações sobre as falhas que propiciaram a “endemia”. “Precisa ficar clara a atual situação da rede e o risco, mesmo que pequeno. Temos de averiguar o que está sendo feito e as causas do problema”, explicou Bisol. Como o Correio divulgou no último sábado, toda a rede pública e algumas unidades privadas têm a superbactéria Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC). São pelo menos 200 pessoas colonizadas, ou seja, que têm a bactéria no organismo. Dessas, 107 desenvolveram a infecção.

O plano do GDF foi divulgado ontem em resposta a cobranças da Anvisa e do ministro da Saúde, Arthur Chioro. Nenhum representante dos órgãos se manifestou sobre as medidas, mas fontes ligadas ao governo federal disseram que “a expectativa era de uma ação mais ativa.”

No total, quatro pessoas infectadas por bactérias multirresistentes morreram em seis dias. Os casos surgem desde 28 de maio. Todas as vítimas tinham o mesmo perfil: idosas com doenças crônicas internadas há pelo menos um mês. Sete pessoas continuam em isolamento em hospitais regionais. Em Taguatinga, há três. No Guará, duas. E em Santa Maria e em Sobradinho, uma cada.


No combate
Veja os principais pontos do plano de enfrentamento

» Compra de produtos de limpeza e desinfecção
» Higienização dos ambientes hospitalares
» Fornecimento de antibióticos
» Fiscalização do uso correto de antibióticos
» Realização de exames para atestar contaminação por bactéria em todos os novos pacientes da rede pública
» Qualificação de equipes para protocolos de segurança