O globo, n. 29878, 27/05/2015. País, p. 10

PF prende mafioso italiano que estava no Brasil havia 29 anos

JAILTON DE CARVALHO

Scotti era chefe da Nova Camorra e foi condenado à prisão perpétua na Itália

- BRASÍLIA- A Polícia Federal prendeu ontem, no Recife, o italiano Pasquale Scotti, exchefe do braço armado da Nova Camorra Organizada, uma das máfias mais violentas da Itália. Scotti é acusado de ter participação em 26 homicídios e está condenado à prisão perpétua desde 2005. Segundo o diretor da Interpol na Itália, Genaro Capulongo, Scotti era um dos fugitivos mais perigosos da Justiça italiana.

HANS VON MANTEUFFELNo Recife. Italiano preso usava identidade falsa, casou-se e teve dois filhos

Scotti chegou ao Brasil há 29 anos, dois depois de fugir da prisão na Itália. Segundo a polícia, ele usava identidade falsa, em nome de Francisco de Castro Visconti, e se fazia passar por empresário. Depois de fixar residência no Brasil, ele se casou com uma brasileira, com quem teve dois filhos: um com 10 anos e outro com 12 anos de idade. No Recife, Scotti atuava como dono de uma corretora de imóveis voltada para estrangeiros e de uma fábrica de fogos de artifícios.

“CAPTURA IMPORTANTÍSSIMA”

O diretor da Interpol no Brasil, Valecy Urquiza, disse que a prisão de Scotti é uma das mais importantes já realizadas pela Polícia Federal. A Itália tem 90 dias para pedir a extradição dele. Scotti passou o dia de ontem preso na PF, mas deve ser transferido para um presídio de segurança máxima.

— Quero agradecer a Interpol do Brasil por essa colaboração que está sendo levada em frente há muitos anos. É uma captura importantíssima. Scotti é considerado um dos mais perigosos foragidos italianos que ainda não tinha sido preso — afirmou Capulongo.

Scotti foi preso às 7h de ontem, depois de deixar os filhos na escola. Policiais brasileiros começaram a vigiá-lo por volta das 5h. Mas só decidiram agir quando perceberam que não haveria risco de reação ou de qualquer outro imprevisto. Depois de detido, o italiano tentou negar a verdadeira identidade e os vínculos com a Nova Camorra.

— Scotti não existe mais — disse o próprio detento, segundo relatos da polícia.

O italiano fora preso em 1983, acusado de ameaça, extorsão e 26 homicídios, entre outros crimes. Ele teria participado direta e indiretamente dos assassinatos de adversários em guerra aberta da Nova Camorra com a Nova Família, outro grupo mafioso. Ele seria o segundo homem na hierarquia da Nova Camorra, chefiada por Rafaelli Cutolo.

— Pasquali Scotti representa a História da máfia Camorra Napolitana — disse o diretor da Interpol italiana.

Ele fugiu da polícia italiana em 1984, depois de ter sido levado da cadeia para um hospital em Casoria. Dois anos depois, entrou no Brasil com documentos falsos e mudou de identidade. Passou a se apresentar como Francisco de Castro Visconti, brasileiro descendente de italiano, e passou a atuar como um discreto empresário. Há 18 anos, casou-se com uma brasileira. Segundo a polícia, ela desconhecia a verdadeira identidade do marido.

COLABORAÇÃO INTERNACIONAL

A Interpol chegou a Scotti a partir de uma investigação criminal na Itália. A polícia italiana pediu, então, a colaboração da Polícia Federal. Há 40 dias, a PF começou a investigar um determinado grupo em Pernambuco e, rapidamente, descobriu que um dos investigados, Francisco de Castro, era o perigoso mafioso procurado há três décadas pelos italianos.

A Camorra é uma máfia surgida entre o fim do século XVIII e o início do século XIX em Nápoles, na Itália. Valendo-se da integração de famílias e associados em negócios ilegais, dominaram parte da economia do espaço urbano da região de Campania. As atividades dos mafiosos da Camorra foram se diversificando ao longo do tempo. Os parceiros de Pasquale Scotti praticavam agiotagem, extorsão, traficavam drogas e impulsionavam o jogo ilegal.

Ao contrário da máfia siciliana Cosa Nostra, com hierarquia bem definida, a Camorra tem uma estrutura horizontal. Há maior independência entre as famílias que compõem a organização. Por esse motivo, mostrou-se uma máfia mais resistente ao tempo. Em 1987, pouco tempo depois de Pasquale Scotti ser considerado foragido, a máfia era formada por pelo menos 26 famílias. Nos dias de hoje, a organização tem como uma de suas principais atividades o tráfico de cocaína.