Título: Quadrilha sonega R$ 1 bi
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2011, Economia, p. 20

Ação da Polícia Federal em 16 estados e no Distrito Federal prende 23 pessoas por fraude fiscal e lavagem de dinheiro

Uma megaoperação da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal colocou fim a um esquema criminoso que sonegou mais de R$ 1 bilhão em impostos nos últimos 10 anos e envolveu mais de 300 empresas, no Brasil e em paraísos fiscais no exterior. Até o fim da tarde de ontem, a PF havia cumprido 23 de um total de 31 mandados de prisão expedidos pela Justiça. Além disso, apreendeu centenas de carros, várias lanchas, um iate e confiscou uma ilha na Bahia, pertenceria ao empresário Paulo Sérgio Cavalcanti, do Grupo Sasil, distribuidor da Braskem. A Operação Alquimia, como foi batizada, alcançou 16 estados e o Distrito Federal, onde foram realizadas buscas em uma casa do Lago Sul. Uma pessoa foi levada à Superintendência da PF para prestar esclarecimentos.

Segundo a Polícia Federal, o esquema atuava em compra, venda, importação e exportação de produtos químicos, utilizando-se de empresas de fachada, muitas vezes abertas em nome de laranjas, para sonegar impostos. As firmas não faziam o recolhimento de tributos federais e estaduais, como os impostos de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e sobre Produtos Industrializados (IPI), entre outros. Quando a Receita fazia a cobrança, a companhia era dada como falida para ficar isenta dos pagamentos. Até agora, a PF apurou que pelo menos 50 das 300 empresas do grupo estavam nessa situação. "Simplesmente fechavam as portas, ficavam em débito com o Fisco", disse o delegado Marcelo Freitas, coordenador da Operação Alquimia.

Conforme o delegado, os estabelecimentos que tinham a fachada de legalidade estavam em dia com os tributos para não despertar suspeitas. Além disso, o grupo abriu diversos escritórios no exterior, a maioria na Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, com a intenção de blindar o patrimônio existente no Brasil e fugir do pagamento de impostos. A descoberta do esquema aconteceu depois de a Receita ter encontrado irregularidades em uma firma pertencente ao grupo no interior de Minas Gerais.

A PF e a Receita conseguiram sequestrar bens que estavam em nome de 62 pessoas físicas e de 195 empresas em vários locais do país. Foram realizadas 129 operações de busca, além de 63 conduções coercitivas ¿ quando a pessoa é levada à polícia apenas para prestar esclarecimentos.

Ouro e prata Nas ações realizadas em Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Sergipe e no Distrito Federal, a PF apreendeu documentos contábeis, computadores e centenas de carros ¿ a maioria de luxo. Mas o que mais chamou a atenção foi a ilha de 20 mil metros quadrados, avaliada em aproximadamente R$ 15 milhões, localizada perto de Salvador, onde foram encontradas duas armas e 2,4 quilos de ouro e prata. Apesar de haver cofre na casa de dois andares existente na propriedade, os metais preciosos estavam simplesmente guardados em um dos cômodos do imóvel. Na ilha também havia lanchas, jet skis, triciclos, entre outros bens, todos sequestrados.

Enriquecimento Os acusados responderão na Justiça por formação de quadrilha, falsidade ideológica, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. A operação foi batizada de Alquimia, segundo a Polícia Federal, porque os fatos investigados envolvem a produção e transformação de produtos químicos. "Ao sonegarem tributos devidos, grupos empresariais, em sua maioria ligados ao ramo de produtos químicos, enriqueceram com facilidade desigual, à custa de graves lesões ao erário", informou a corporação, por meio de nota.

A PF não divulgou os nomes das pessoas envolvidas nas fraudes e nem os locais exatos onde foram feitas as buscas e apreensões.