Janot vê suspeita sobre Cunha mais forte

Talita Fernandes

Beatriz Bulla

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que informações prestadas pelo ex-diretor da área de informática da Câmara dos Deputados Luiz Antonio Souza da Eira “reforçam as suspeitas” de envolvimento do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em requerimentos alvo das investigações da Operação Lava Jato.

Cunha é suspeito de ter arquitetado a elaboração de dois requerimentos de informações sobre as empresas Samsung e Mitsui, contratadas pela Petrobras. Segundo delação do doleiro Alberto Youssef, Cunha teria pedido auditoria em contrato das empresas com a estatal como “ameaça” após a suspensão de suposta propina de aluguel de um navio-plataforma. Os requerimentos eram uma solicitação da Câmara de informações ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o negócio.

Os pedidos foram apresentados pela hoje prefeita de Rio Bonito (RJ), Solange Pereira de Almeida, em 2011, então suplente de deputado, mas registros eletrônicos prévios ao requerimento mostram Cunha como autor da solicitação de auditoria em contratos da empresa com a Petrobras. Por isso, embora as representações tenham sido apresentadas pela ex-deputada federal Solange Pereira de Almeida (PMDB-RJ), a suspeita é de que a iniciativa tenha sido arquitetada por Cunha.

O presidente da Câmara, contudo, nega ter criado o documento e diz que seu nome apareceu na peça inicial por uma “fraude”. Já Eira, rebate a contestação de Cunha, afirmando que uma auditoria interna da Casa concluiu que não houve fraude e nem alteração em nenhum dos dois requerimentos alvo das investigações. “Os requerimentos que constam no sistema eram exatamente aqueles que foram inseridos no sistema em 2011”, afirma o ex-diretor.

Procuradoria

Em depoimento a procuradores e à Polícia Federal, um dia após ser demitido por Cunha, Eira afirmou que o requerimento no sistema de informática da Câmara é feito por meio de uma “senha pessoal e intransferível” e que o nome de Cunha figura como autor de um dos procedimentos. A informação foi utilizada para sustentar o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) para coletar documentos no setor de informática da Câmara nesta semana . Esses arquivos devem ajudar nas investigações de um inquérito da Lava Jato do qual Cunha é alvo.

Em sua declaração, Eira confrontou explicações dadas por Cunha, o que teria aumentado as suspeitas do envolvimento do presidente da Câmara no escândalo de corrupção da Petrobras, segundo a Procuradoria.

Demissão

O ex-diretor relatou também aos investigadores que Cunha o demitiu para dar “exemplo” aos demais servidores da Casa de que vazamentos de informações não são aceitáveis. Eira foi demitido um dia após o jornal Folha de S.Paulo publicar reportagem relacionando Cunha como autor do documento. Segundo o relato de Eira, o presidente da Câmara já tinha informações de que a imprensa divulgaria, no dia seguinte à demissão do ex-diretor, informações sobre autoria de requerimentos investigados quando ordenou a demissão de Eira ao diretor-geral da Casa, Sérgio Sampaio. Segundo Eira, Sampaio disse que Cunha acreditava que ele não tinha sido o responsável pelo vazamento, mas que “serviria de exemplo para os demais”. O funcionário afirmou aos investigadores que, na visão de Cunha, o vazamento era uma “retaliação” por parte dos técnicos de informática por ter determinado cumprimento integral de carga horária na semana anterior.

Cunha questiona a legitimidade das informações prestadas por um funcionário “demitido com raiva”. “Ele, Eira, é nesse momento um ex-chefe demitido por não cumprir sua obrigação profissional. Só isso. Logo, as suas palavras não podem ter o condão de serem verdades absolutas e são nesse momento eivadas de suspeição”, disse Cunha.