Título: Rossi culpa disputa pela prefeitura de São Paulo
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2011, Política, p. 2/3
Ao deixar o cargo, ex-ministro diz que crescimento do PMDB na capital paulista assusta os adversários e que teria sido vítima de um complô Em sua carta de demissão, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi atribui parte das denúncias veiculadas nas últimas semanas, que culminaram em sua demissão, à disputa pela prefeitura de São Paulo em 2012. Sem citar nomes, acusou um político brasileiro de estar por trás dos ataques. ¿Sei de onde partiu a campanha contra mim. Só um político brasileiro tem capacidade de pautar Veja e Folha e de acumular tantas maldades fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias¿, disse, na carta de demissão. A pessoas próximas, Rossi desabafou que o responsável por sua queda seria José Serra, do PSDB, o principal nome do tucanato para a disputa municipal de 2012.
Aos aliados, Rossi reclamou que o crescimento do PMDB na capital paulista tem assustado os postulantes à prefeitura paulistana no ano que vem. Depois de anos gravitando à margem das grandes legendas no estado e na capital, os peemedebistas vislumbram finalmente a possibilidade concreta de eleger um candidato ao governo municipal. Para isso, filiaram o deputado federal Gabriel Chalita, muito próximo do governador Geraldo Alckmin. Chalita se elegeu pelo PSB, mas sua migração para o PMDB foi negociada diretamente com o vice-presidente Michel Temer.
O movimento político também promoveu um outro sinal, na avaliação de cardeais peemedebistas. O PMDB vitaminado sairia da órbita do PSDB, o que enfraqueceria a candidatura de Serra. Em tempos remotos, esse cenário seria inviável. O PMDB paulista sempre foi próximo de Serra, principalmente na época em que a legenda era presidida por Orestes Quércia. Mesmo o vice-presidente Michel Temer tem uma relação boa com o PSDB paulista ¿ em 2002, eles estavam juntos na disputa presidencial contra o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, na opinião de interlocutores do PMDB e do governo, a ação de Serra seria justificável diante das pretensões de Chalita.
Tucanos rebatem Os tucanos preferem acreditar que as afirmações de Rossi seriam um ¿desabafo de um ministro demissionário¿. O líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP), lembra que Serra nem mandato tem, o que diminuiria em muito seu potencial político. ¿De mais a mais, existem outros políticos sem mandato com mais poder que o Serra, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva¿, apontou Nogueira.
Lula está diretamente envolvido na disputa municipal de São Paulo. O ex-presidente articula a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. Tem promovido negociações, inclusive, para que não haja prévias internas, apesar de ter pelo menos três postulantes ao mesmo cargo: a senadora Marta Suplicy (SP) e os deputados Jilmar Tatto (SP) e Carlos Zarattini (SP). No início desta semana, Haddad recebeu o apoio de um grupo de intelectuais do partido, como a filósofa Marilena Chauí e o jornalista Eugênio Bucci.
Haddad, contudo, enfrenta resistências fortes no próprio PT. Na última caravana organizada pelo diretório estadual petista com os candidatos, Marta Suplicy afirmou que, ¿se Lula quiser perder as eleições em São Paulo, basta escolher Haddad¿. Dois dias depois, Marta perdeu o encanto interno com a deflagração da Operação Voucher, que prendeu 38 pessoas ligadas ao Ministério do Turismo, entre elas o ex-presidente da Embratur, Mário Moyses ¿ ligado diretamente à senadora petista. ¿Isso será mortal na disputa do ano que vem, quando o PT ainda terá de enfrentar o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal¿, disse um cacique petista.