Título: O nome é Mendes Ribeiro
Autor: Rothenburg
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2011, Política, p. 6

Líder do governo no Congresso, o deputado federal foi sondado pelo PMDB e teve a indicação apresentada pela legenda à presidente ontem à noite

Três horas depois de o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, virar "ex", a cúpula do PMDB entregou à presidente Dilma Rousseff o nome do substituto: o líder do governo no Congresso, deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS). Mendes Ribeiro foi recebido no gabinete do vice-presidente Michel Temer, padrinho da indicação de Rossi, pouco depois das 20h, quando toda a cúpula do PMDB havia sido chamada para avaliar as opções, uma vez que Dilma, pega de surpresa pelo pedido de demissão de Rossi, decidiu manter a pasta nas mãos do partido. Jorge Alberto Portanova Mendes Ribeiro Filho, ou simplesmente, Mendes Ribeiro, ou "Mendinho", como os amigos o chamam, é visto como um nome que agrada a todos os grupos do PMDB e ainda ajuda o partido em outras frentes.

Negociação pelo nome de Mendes Ribeiro demorou apenas 3 horas

A primeira é abrir caminho para que o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), possa fazer do senador Eduardo Braga (PMDB-AM) o líder do governo no Congresso. E, assim, dar uma atenção ao G-8, o grupo de senadores que, por vezes, se torna uma pedra no sapato de Renan, clamando por espaço político. Para completar, o primeiro suplente de Mendes na Câmara é Eliseu Padilha, que ocupou o Ministério dos Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso e é ligadíssimo a Michel Temer. A ideia inicial era apenas aproveitar a saída de Rossi para tentar colocar na Agricultura um nome que pudesse ajudar a cúpula do partido a arrefecer a rebelião deflagrada ontem na bancada. Pela manhã, 35 deputados do PMDB se reuniram para criticar a "ditadura interna" impetrada pelo líder Henrique Eduardo Alves (RN) e seu principal parceiro, o deputado Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro.

Quando perceberam que Mendes Ribeiro se encaixava perfeitamente em todos os quadros, Temer foi conversar com Dilma. A presidente e Temer passaram o dia com a crise na cabeça. Dilma chegou a trocar os sobrenomes (leia matéria ao lado) de políticos com personagens da crise na Esplanada. Ao final do dia, Temer foi direto: "O Wagner Rossi me procurou por razões familiares, a família o pressionou enormemente. A presidente insistiu muitíssimo para que ele permanecesse, mas ele resistiu e disse que não teria condições de continuar", contou Temer, quando ainda trabalhava quatro ou cinco nomes.

Partido dividido A escolha de Mendes Ribeiro para a vaga de Wagner Rossi não significa paz no PMDB. Na manhã de ontem, um grupo de 35 deputados ¿ de uma bancada de 78 ¿ reuniu-se na Câmara para reclamar do tratamento que o partido vem recebendo do governo e da falta de articulação entre setores da bancada e o líder na Casa, Henrique Eduardo Alves. O estopim da crise foi a entrega da relatoria do Código de Processo Civil ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Há um consenso de que as melhoras relatorias são entregues ao pemedebista fluminense, em detrimento do conjunto da bancada.

Eles também reclamam que Henrique preocupa-se mais com sua candidatura precoce à presidência da Câmara dos Deputados do que em defender os interesses da bancada. E que adotou o discurso repetitivo de "liberação de restos a pagar e emendas parlamentares", o que gera antipatia para a legenda perante a opinião pública, atrelando-a à pecha de fisiologista. Já há, inclusive, quem diga que o cargo de líder estaria ameaçado ¿ alguns parlamentares, inspirados pela revolução jovem que eclode em diversos pontos do mundo, defendem o nome de Lúcio Vieira Lima (BA), que está no primeiro mandato e é irmão do vice-presidente de Crédito para Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima.

Na reunião do grupo dissidente, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), ex-presidente da Funasa, defendeu que os peemedebistas deveriam entregar todos os cargos que têm na administração federal, a exemplo do que fez o PR. "O PMDB é muito grande para apenas ser chamado a "votar com o governo". Ou somos parceiros para discutir políticas públicas ou passamos a ser independentes do Planalto", defendeu ele.

O mesmo grupo também defende a saída do ministro do Turismo, Pedro Novais. Alegam que ele está "visado" após as denúncias envolvendo o ministério na Operação Voucher e teria perdido a capacidade política de "operar" para o partido.