Título: Ministro lamenta faxina
Autor: Gama, Júnia
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2011, Política, p. 9

Isolado pelo PR, Paulo Passos diz não concordar com demissões na pasta e defende aditivos em contratos.

O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, revelou ontem que considera injusta a forma como os 24 servidores da pasta e de órgãos relacionados ao ministério foram demitidos após denúncias de corrupção. Para Paulo Sérgio Passos, que prestou longo depoimento na Câmara, os funcionários foram "colocados em uma vala comum injustamente", já que alguns solicitaram a própria exoneração e não foram afastados em decorrência de ato punitivo. O ministro explicou que as exonerações deveriam facilitar ao governo a recomposição da hierarquia nos órgãos do ministério, após a saída de Alfredo Nascimento. Segundo Passos, apenas dez dos afastados respondiam a processos judiciais.

Logo no início do depoimento, o líder do PR, Lincoln Portela (MG), disse que o ministro não é indicação do partido. "Dizer isso é confirmar que a presidente Dilma Rousseff tomou uma atitude precipitada na maneira como tratou o episódio", afirmou Portela. Na esteira do escâdalo, o PR anunciou na terça-feira independência da base governista. O partido decidiu não apoiar o ministro em seu depoimento, função que coube ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e ao líder do PT, Paulo Teixeira (SP). "Não queríamos deixá-lo órfão, o líder do partido dele partiu para o confronto, ao invés de protegê-lo", justificou Vaccarezza.

Lincoln Portela fez um duro discurso no breve tempo que passou no plenário. "Lamentei vossa excelência não ter falado à imprensa que essas 24 pessoas não são os bandidos corruptos que divulgaram", atacou. Portela destacou que não será pedida a desfiliação do ministro do PR, como noticiado recentemente. Paulo Sérgio Passos reiterou que não vê necessidade para instalação de uma CPI, mas concordou que há base para investigações no ministério e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). "Seria ingenuidade dizer que não há irregularidades, mas é preciso não superlativizar isso. O Dnit não está podre", defendeu.

Pagamentos extras Questionado sobre as altas cifras alcançadas pelos aditivos nos Transportes, que provocaram incômodo no Planalto, Passos afirmou que os pagamentos extras eram normais, já que a previsão inicial de gastos corresponde apenas a uma expectativa de valores prováveis.

O senador Alfredo Nascimento (PR-AM) se declarou assustado com o acréscimo de R$ 58 bilhões para R$ 72 bilhões no orçamento para execução de obras do PAC quando deixou o ministério e retornou ao Senado. Vaccarezza defendeu a legalidade dos aditivos, mas não escondeu a insatisfação com o excesso."O excesso de aditivos diminui a margem de decisão política da presidente. O ministério estabeleceu prioridades que não estavam na ordem da presidente", disse.

Com o partido rachado, o senador Magno Malta (ES), líder da legenda no Senado, decidiu recuar e pediu desculpas aos seus colegas pelo posicionamento contrário à saída do PR do bloco de apoio ao governo. Ameaçado de perder a liderança do partido, Malta procurou os senadores Alfredo Nascimento (PR-AM) e Blairo Maggi (PR-MT) para recompor a aliança.