Valor econômico, v. 15, n. 3742, 24/04/2015. Brasil, p. A8

 

Espanha acena com opção 'pragmática' para união UE-Mercosul

Por Assis Moreira | De Madri

O governo espanhol já menciona abertamente uma opção "pragmática" para a negociação entre União Europeia e Mercosul, o que significaria buscar acordo diretamente com o Brasil e outros países do bloco do Cone Sul.

Ao participar de encontro de empresários ao lado do vice-presidente Michel Temer, o ministro de Relações Exteriores da Espanha, José Manuel García-Margallo, sinalizou, de maneira diplomática, dúvidas sobre o acordo birregional. Disse que a opção, no caso de fiasco da negociação bilateral, seguirá o que ocorreu com a Comunidade Andina.

"Naquele caso, a UE optou por acordos com o Peru e a Colômbia, já feitos", disse. "Se Mercosul-UE não der, e o panorama do Mercosul é de maior heterogeneidade, vamos provavelmente para um enfoque mais pragmático." Para o ministro, isso "seria muito importante para a Espanha e para o Brasil tambem". A Espanha é o segundo maior investidor estrangeiro no Brasil, com estoque de US$ 90 bilhões. "O Brasil para nós é prioridade máxima", disse.

Margallo avalia que a União Europeia está na direção de fechar acordo de comércio e investimentos com os EUA. Ao mesmo tempo, diz que a UE tem que reafirmar suas posições na América Latina. "Os EUA, que por alguns anos se esqueceram da América Latina por outros assuntos, renovaram sua agenda na região".

O ministro lembrou que na Cúpula do Panamá, há duas semanas, a aproximação que Barack Obama fez com Cuba demonstra que os EUA voltam a contemplar a América Latina como cenário prioritário de política externa. E, nesse cenário, diz, a Europa não quer perder posições na região e precisa desenvolver uma agenda "mais importante e mais firme."

Para o ministro, a expectativa é que um acordo UE-EUA possa provocar o desbloqueio das negociações UE- Mercosul. "Se fazemos o acordo com os EUA, com o Mercosul e com o norte da Africa será perfeito", afirmou, para logo em seguida mostrar ceticismo no caso do Mercosul.

Margallo nota que no cenário energético "as coisas vão se mover depressa". Acha que o que está acontecendo na fronteira com a Rússia aconselha a Europa a reduzir a dependência energética em relação à Rússia. E as fontes alternativas incluem desde o norte da África até o Brasil. "O Brasil oferece enormes perspectivas também de gás para a União Europeia", disse.

Temer limitou-se a repetir a posição do governo da presidente Dilma Rousseff, de que existem discussões sobre ofertas entre os dois blocos. "Acho que podemos chegar a bom termo entre Mercosul e UE", disse o vice-presidente.