Título: Novais descarta demissões
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2011, Política, p. 12

Em depoimento na Câmara, ministro do Turismo diz que só vai exonerar servidores detidos caso as denúncias sejam comprovadas e confirma que o ex-número dois da pasta tinha bom trânsito na Esplanada

O ministro do Turismo, Pedro Novais, deu mostras de que a influência do ex-secretário executivo Frederico Silva Costa, pivô das denúncias de desvio de recursos públicos em um convênio com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestutura Sustentável (Ibrasi), chegava ao Ministério do Planejamento e à Casa Civil. Um trânsito fácil que o tornou número dois da pasta. "Ele entendia tudo e circulava muito bem nos órgãos que eram importantes para nós. Não havia motivos para não delegar poderes a ele", disse, ao ser ouvido ontem por três comissões da Câmara.

Durante a audiência, que durou cinco horas, Novais anunciou que não vai demitir nenhum dos acusados e presos durante a Operação Voucher, da Polícia Federal. A proteção inclui até a permanência de Frederico ¿ chamado várias vezes de Fred pelo ministro ¿, que pediu demissão na última terça-feira, mas continua recebendo salário. Novais afirmou que qualquer decisão só poderá ser tomada depois que as suspeitas se confirmarem. "Não vou demitir ninguém. Isso só vai acontecer se eles forem acusados pela Justiça", anunciou o ministro, ao responder ao questionamento de pelo menos cinco deputados sobre as demissões na pasta.

Decidido a proteger os acusados e a insistir no discurso de que as providências para apurar as denúncias estão sendo devidamente tomadas, o ministro e a cúpula peemedebista da Câmara não conseguiram disfarçar o tamanho da influência partidária na pasta. Apesar das tentativas de demonstrar que o ministério não foi loteado politicamente, a admissão de que o secretário executivo frequentemente era chamado ao Congresso para resolver pendências dos parlamentares da legenda deixou claro que a pasta servia para atender pedidos políticos.

Diante da pressão dos deputados para obter detalhes sobre a influência do partido e as relações dos peemedebistas com Frederico Costa, restou ao líder da legenda, Henrique Eduardo Alves (RN), fazer o mea-culpa. Segundo ele, o então secretário esteve "umas três vezes no Congresso fora do horário de expediente". De acordo com o peemedebista, os encontros ocorreram em dias em que não houve tempo para que resolvessem as pendências no ministério. "Fiz isso para atender aos pedidos da minha bancada e faria de novo, se fosse necessário. Até porque foram encontros para tratar de assuntos republicanos", disse.

Pressão Pressionado pelos oposicionistas a deixar o cargo, Novais foi direto e disse que a ideia não faz parte dos seus planos. "Só saio se a presidente Dilma me demitir, se eu perder o apoio do partido ou se eu ficar doente. Se nada disso acontecer, vou ficar", respondeu ele.

A crise no ministério teve início em 9 de agosto, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Voucher. Foram cumpridos 38 mandados de prisão e 36 pessoas foram presas, sendo sete servidores da pasta. Os funcionários do Turismo estão afastados dos cargos, mas não foram demitidos. As denúncias são investigadas pela PF, pela Controladoria-Geral da União e pela Procuradoria da República em Macapá.