Greve geral ameaça 1,2 milhão no DF

Correio braziliense, n. 19005, 08/05/2015. Cidades, p. 15

Isa Stacciarini

Brasilienses que dependem de ônibus vão enfrentar dificuldades para se deslocarem a partir de hoje. Os rodoviários decidiram entrar em greve geral a partir da meia-noite. Apesar da paralisação, motoristas e cobradores vão se reunir nas garagens das empresa, a partir das 4h, para discutir o percentual da frota que vai circular. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou que 70% dos veículos operem no horário de pico e 50% no entrepico. Em caso de descumprimento, a multa é de R$ 100 mil por dia. A Secretaria de Mobilidade garantiu que vai ficar atenta ao cumprimento do serviço e pode notificar e autuar as empresas por viagens não realizadas.

Ao ser intimado por um oficial de Justiça na manhã de ontem, o Sindicato dos Rodoviários recuou. A direção tentou convencer a categoria a entrar em greve apenas na próxima segunda-feira para que as negociações continuassem durante a semana, mas os trabalhadores recusaram. A tentativa da entidade de classe, agora, é intervir para que os rodoviários acatem a decisão da Justiça e coloquem a quantidade de veículos exigida nas ruas.

O transporte atende, hoje, 1,2 milhão de usuários por dia. As cinco empresas que integram o Sistema Básico são responsáveis por 2.691 ônibus, enquanto as cooperativas atuam com 450. No total, atendem mil linhas em todo o DF.

Ontem, a categoria lotou o estacionamento do Conic para participar da assembleia. Rodoviários entoavam gritos de greve geral a cada tentativa dos representantes do sindicato em adiar o movimento. Com a decisão do TRT em mãos, o presidente Jorge Farias sugeriu a suspensão da jornada extra que coloca em circulação 40% de carros a mais nos turnos da manhã e tarde, mas tentou remarcar a paralisação para a próxima semana.

A advogada dos trabalhadores esteve no local e acompanhou a votação. Os trabalhadores reivindicam 20% de aumento salarial, 30% de tíquete-alimentação e cesta-básica, além de plano de saúde complementar. Os empresários, porém, oferecem 8,34% com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Segundo os patrões, o contrato de concessão com o GDF prevê a cláusula que só permite conceder um reajuste nos salários dos empregados com base na variação da inflação. Por isso, qualquer acréscimo passa pelo poder concedente, que teria de reajustar o subsídio. (Leia Para saber mais).

Durante a assembléia, representantes do sindicato não pouparam críticas ao atual governo. No carro de som, o diretor de Comunicação, Marcos Júnior Duarte, atribuiu a responsabilidade da greve também ao GDF. “O governo está aí na arquibancada assistindo a gente se digladiar com os empresários. Se fosse um governo sério, ele ia se sentar à mesa com os empresários”, disse. O atual diretor financeiro e ex-presidente do sindicato, João Osório, também cobrou postura do GDF. “Procuramos os membros do governo, mas não tivemos retorno. A não participação do GDF torna o problema ainda mais difícil. Só tem um caminho: o governo participar das negociações.”

Na sexta-feira, empresários ajuizaram ação cautelar no TRT para obter liminar que garantisse percentual mínimo de circulação dos ônibus. Eles solicitaram 100% dos veículos no horário de pico e 60% no entrepico. A desembargadora Maria Regina Machado Guimarães avaliou o pedido e deferiu a decisão de 70% no pico e 50% no entrepico. O horário de pico estipulado é das 5h às 9h30, 11h às 13h e 15h às 19h30. A atitude também gerou descontentamento de Osório: “Toda vez que o trabalhador toma atitude degreve, ela é considerada criminosa. Em todas as vezes, as empresas recorrem à Justiça e o TRT atende prontamente”, reclamou.

Negociações

Segundo o presidente do sindicato, Jorge Farias, a reunião de hoje de manhã com os trabalhadores vai definir o cumprimento da decisão judicial. “O governo não pode fugir da mesa de negociação. Se ele estivesse fazendo a parte que compete, não teria grevegeral. As empresas, para conceder reajuste acima da inflação, precisam da participação do governo. Agora, esperamos uma posição dos patrões para avaliar, mas a greve geral foi decretada pela maioria”, disse.

Osório explicou que a categoria apresentou uma contraproposta de aumento de 13%, mas não teve retorno. “A rejeição dos trabalhadores, em partes, tem relação com o longo período de negociação, porque a nossa data-base é em 1º de maio. Começamos as rodadas de conversa em abril e, até hoje, não houve posição das empresas e do sindicato. Há descrença de que, em uma semana, as coisas pudessem se resolver”, considerou.

O Transporte Urbano do DF (DFTrans) ressaltou que elaborou um plano emergencial a ser aplicado hoje. As principais linhas que ligam as regiões administrativas deverão circular, todos os dias, pelo menos 18 horas por dia, das 5h às 23h. Segundo o órgão, linhas deverão ser atendidas por ônibus de maior capacidade, como é o caso de veículos articulados ou convencionais. As empresas prometem cumprir decisão do TRT e entrar com dissídio de greve na Justiça para se chegar a uma solução para o impasse.

Para saber mais

Como são calculadas as tarifas

Os subsídios que o governo paga às empresas de ônibus estão previstos em leis aprovadas pela Câmara Legislativa do DF. Estudantes, pessoas com deficiência e idosos têm direito à gratuidade. Com relação à tarifa técnica, prevista no edital de licitação, esse modelo de remuneração foi determinado porque o usuário, ao fazer uso da integração, não paga nova tarifa. Dessa forma – se há integração – deve haver um subsídio que remunere a viagem. Atualmente, os valores das tarifas técnicas são: Piracicabana R$ 3,1886; Pioneira R$ 3,7427; Urbi R$ 3,3653; Marechal R$ 4,7592 e São José R$ 3,2532.

Opinião do internauta

Veja o que leitores comentaram nas redes sociais

Laura Palomino
“Quero ver se essa decisão judicial será cumprida mesmo. Nunca que 70% da frota estará em circulação nos horários de pico!
E ainda falam que estão fazendo tudo dentro da lei. Amanhã a cidade estará o caos…”

Sigelman Diniz
“E de que adianta os rodoviários terem salários excelentes, se continuamos com transporte público de péssima qualidade, motoristas mal-educados que tratam e transportam passageiros como se fossem gado, continuamos correndo risco de assalto nas paradas pela demora do ônibus e ainda motorista que queima parada? Acho que a melhoria deve vim tanto para a categoria, quanto para os passageiros, haja vista que é o NOSSO dinheiro que sustenta essa classe. Não sou contra a reivindicação de nenhuma categoria, mas as melhorias devem ser para os dois lados.”

Iara Silva Araujo Andinha
“Não vejo nenhuma mobilização popular para melhoria do transporte público no DFTRANS e/ ou na Secretaria de Mobilidade , apenas mi-mi-mi dentro de ônibus pra perturbar o local de trabalho do rodoviário. Se querem realmente fazer uma crítica construtiva , comecem pelo sr governador, q lavou as mãos , q resolveu ser omisso e não ajudar nas negociações .”

Ncvnenen Dociclone
“Gente, respeite o nosso direito de reivindicar melhorias, todo trabalhador tem direito de lutar pelos seus direitos, vcs estão focando no lado errado da questão,é esse governo lixo e os patrões os responsáveis por isso e não nós, meros trabalhadores.”