Venezuela pauta duelo político no Brasil

Pedro Venceslau

Erich Decat

 

A crise entre governo e oposição na Venezuela entrou na pauta política brasileira. Ao tomar conhecimento de que o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, planejava desembarcar em Caracas com uma comitiva oficial de parlamentares, o governo da Venezuela convidou uma delegação de políticos, intelectuais, blogueiros e ativistas brasileiros de esquerda para uma agenda paralela no país.

Em um confronto direto com a condução da política externa pelo governo da presidente Dilma Rousseff, Aécio e lideranças de oposição vão criticar o alinhamento ideológico do governo petista com o venezuelano Nicolás Maduro. A visita ao país vizinho servirá como reforço ao discurso de Aécio, candidato derrotado nas eleições de 2014, de que, a despeito da influência geopolítica do Brasil na América Latina, o governo Dilma tem sido "omisso" em relação ao que os tucanos classificam como "escalada autoritária" na região. A comitiva de senadores brasileiros deve ser integrada pelo presidente do DEM, Agripino Maia (RN), pelo líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), e pelos parlamentares Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e Sérgio Petecão (PSD-AC).

Contraponto. Os dirigentes políticos do grupo pró-Maduro, o senador petista Lindberg Farias (RJ), o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, e o deputado estadual petista mineiro Rogério Correia, declinaram da oferta. O ativista Pablo Capilé também consta da lista de convidados, mas até a noite de ontem ainda não tinha desembarcado em Caracas.

A comitiva acabou sendo formada pelo escritor Fernando Morais, dirigentes sindicais e professores universitários alinhados com o governo Dilma.

"Estamos aqui pra fazer esse contraponto. O Aécio não tem moral pra falar de liberdade, muito menos de liberdade de imprensa, já que quando foi governador silenciou a imprensa e perseguiu jornalistas", diz Kerisson Lopes, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.

O governo venezuelano convidou opositores de Aécio na política mineira justamente para constranger o senador, que é visto no país como o principal líder de oposição ao Palácio do Planalto e ao PT. "Isso é um cacoete típico dos caudilhos, faz parte do repertório deles. A comissão do Senado foi escolhida de forma democrática", diz o líder da minoria na Câmara, Bruno Araújo (PSDB-PE).

Os convidados de Maduro fizeram um périplo por programas de TV, deram entrevistas em rádios e participaram de atos políticos. A expectativa é de que eles se encontrem com Maduro hoje, no momento em que os senadores brasileiros estiverem com líderes de oposição ao presidente.

Essa estratégia é recorrente no governo chavista de Maduro e foi usada no começo de junho, quando o ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González aterrissou em Caracas para defender os líderes opositores venezuelanos Leopoldo López e Antonio Ledezma, que estão presos. López está encarcerado desde fevereiro de 2014, acusado de instigar protestos. Ledezma, que é prefeito metropolitano de Caracas, foi detido em fevereiro passado sob a mesma acusação.

Na ocasião, alguns partidos de esquerda da Venezuela organizaram atos de repúdio ao ex-dirigente espanhol. No caso dos senadores brasileiros, não há previsão de protestos.

 

Petista é acusado de usar rede estatal para difamar Aécio

 

Informações entregues pelo Twitter ao Judiciário de São Paulo e posteriormente repassadas aos advogados do senador Aécio Neves (PSDB-MG) mostram que redes do Ministério da Fazenda e do Serpro, empresa estatal de processamento de dados do governo federal, foram usadas por um militante do PT que é acusado de disseminar informações difamatórias contra o tucano.

Segundo reportagem publicada nesta quarta-feira, no jornal Folha de S.Paulo, o autor das postagens é um funcionário do Serpro em Belo Horizonte chamado Márcio de Araújo Benedito. De acordo com o texto, ele é filiado ao PT e membro da comissão de ciência e tecnologia da legenda.

A assessoria jurídica do senador diz que ainda estuda quais providência tomará contra o suposto autor das mensagens, que acusam Aécio de traficar e consumir drogas, e que outros usuários estão sob análise.

A advogada Juliana Abrusio afirmou que os dados do Twitter "revelam que vários perfis estavam sendo utilizados para caluniar Aécio Neves, em uma ação articulada e organizada, visando disseminar ofensas e mentiras".

— Não se sabe ainda quantas pessoas participaram dos ataques, já que são vários perfis envolvidos, sendo que o comportamento de alguns perfis era bastante anormal na rede.

O perfil de Benedito é um dos 55 que foram alvo de ação judicial do PSDB durante a campanha presidencial do ano passado. O tucano pediu à Justiça a quebra de sigilo dos perfis para identificar os autores das postagens.

Depois de analisar o conteúdo do material enviado pela rede social de microblogs, o juiz Helmer Augusto Toqueton Amaral permitiu que os advogados tivessem acesso aos dados pessoais de 20 usuários.

Ouvido pela Folha de S.Paulo, Benedito negou que tenha feito postagens vinculando Aécio ao tráfico e consumo de drogas. Segundo o petista, os comentários se restringiam a opiniões sobre a gestão do tucano à frente do governo de Minas, entre 2003 e 2010. O funcionário do Serpro argumentou que as postagens foram feitas de sua conta pessoal, e não podem se misturar às do trabalho.

Senador perdeu ação judicial contra buscadores

A decisão da Justiça de determinar que o Twitter entregasse os dados de um usuário da rede ao tribunal ocorre um mês após o senador perder uma outra ação judicial, movida contra os maiores sites de busca da internet.