Auditor da Petrobras fez lista de diretores, gerentes e ex-gerentes suspeitos

 

BRASÍLIA - A pedido da PwC, que auditou o balanço contábil da Petrobras de 2014, a estatal elaborou uma lista com nomes de diretores, gerentes e ex-gerentes que deveriam ser substituídos na certificação das demonstrações financeiras, em razão de achados tidos como suspeitos. Em reunião do Conselho de Administração da Petrobras em 27 de fevereiro, cujo áudio foi obtido pelo GLOBO, o diretor de Governança, João Adalberto Elek Júnior, detalhou o pente-fino feito numa relação de 35 nomes encaminhada pela PwC. O diretor listou oito pessoas para os quais “aparecem algumas bandeiras vermelhas”. Entre eles estão um diretor licenciado da Petrobras, um gerente na ativa e um diretor na ativa na BR Distribuidora.

Após a explicação inicial, o então presidente do conselho, Guido Mantega, quis saber os nomes, e o diretor citou Armando Tripodi, ex-chefe de gabinete da presidência na gestão de Sergio Gabrielli e gerente de Responsabilidade Social; Diego Hernandes, ex-gerente de Recursos Humanos; José Eduardo Dutra, licenciado por motivos de saúde da Diretoria Corporativa da estatal; Luis Alves de Lima Filho, diretor da Rede de Postos de Serviço da BR Distribuidora; Paulo Otto, então ouvidor-geral da estatal; Rubens Teixeira, então diretor financeiro da Transpetro; e Wilson Santarosa, então gerente de Comunicação da Petrobras. A reportagem não conseguiu identificar o oitavo nome.

Na lista, há gestores indicados por partidos e políticos. É o caso do diretor da Rede de Postos da BR, indicado pelo senador Fernando Collor (PTB-AL) — dentro da Operação Lava-Jato, o parlamentar é investigado no STF por suspeitas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Paulo Otto foi indicado ao cargo de ouvidor-geral pelo ex-ministro José Dirceu, motivo de queixas de conselheiros em reuniões do conselho da Petrobras, como revelado pelo GLOBO no último dia 13. Ele foi demitido do cargo no dia 15.

Wilson Santarosa foi demitido pelo atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, em março. O ex-sindicalista ficou 12 anos no cargo, indicado pelo ex-presidente Lula e por Dirceu. Teixeira, indicado pelo PRB, deixou o cargo na Transpetro em março.

O diretor ressaltou que não se tratava de denúncia nem de “julgamento de atitudes”, mas só da ressalva para a possibilidade de substituir esses certificadores. Para tratar do assunto, considerado “delicado” pelo diretor, Elek pediu para falar apenas na presença de conselheiros. Os diretores deixaram a sala de reunião.

 

Ele disse que um comitê especial avaliou os nomes para identificar certificadores que poderiam gerar “desconforto” aos auditores responsáveis pela análise externa do balanço contábil. Para isso, foram coletados telefones celulares, iPads e computadores das pessoas listadas. Elek explicou que foram encontrados registros como encontros frequentes com pessoas citadas na Lava-Jato, visitas recebidas e ligações telefônicas trocadas. No telefone de um funcionário, o pente-fino detectou o agendamento de um almoço com Fernando Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do esquema de desvios de recursos da Petrobras a políticos do PMDB.

— A sugestão do comitê é que, independentemente do que apareça mais adiante, que se inicie de imediato a identificação de potenciais substitutos para nomes que venham a ser considerados não confiáveis — disse Elek, que sugeriu a criação de um “estoque de nomes”.

PETROBRAS E BR NÃO COMENTAM

Após ouvir os nomes, conselheiros questionaram se “já aparecem registros de alguma coisa”. Elek respondeu:

— Já aparecem registros do tipo: encontros frequentes com pessoas relatadas dentro do processo da Lava-Jato, encontro, visita que recebeu, vários telefonemas que receberam. Temos aí a evidência documental. Não é denúncia. São evidências de que houve contato, o que pode retirar o conforto do auditor.

Numa reunião de 26 de março, foi detalhada o pente-fino feito nos 35 nomes indicados pela PwC: 333 equipamentos analisados, 15 milhões de documentos extraídos, testes com 1.230 palavras-chave. Ainda naquela reunião se falava em “oito nomes em que não haveria conforto para serem certificadores”, dos quais três deixaram a companhia no intervalo entre uma reunião e outra. Ao menos um nome foi efetivamente substituído na certificação.

Os detalhes da lista de Elek não constaram da ata da reunião de 27 de fevereiro. A diretoria de Governança foi criada na Petrobras em novembro, como resposta às descobertas de desvios e propinas feitas pela Lava-Jato. Elek assumiu o cargo em janeiro. Procuradas pela reportagem, Petrobras e BR Distribuidora disseram, por meio das assessorias de imprensa, que não comentam “informações supostamente oriundas de vazamentos ilegais”. O GLOBO não conseguiu localizar os funcionários que se desligaram da estatal.

 

Petrobras vai reduzir área de comunicação

 

 A nova gestão da Petrobras, liderada por Aldemir Bendine, pretende rever o número de funcionários na área de comunicação da estatal. A petroleira conta com um exército de 1.146 profissionais no país e no exterior, um contingente muito maior do que o de outras concorrentes, como informou a “Folha de S.Paulo” no domingo. Deste total, 519 são concursados e outros 627, terceirizados.

A Petrobras está em processo de contratação de uma consultoria para reavaliar o setor de comunicação. As empresas Ernst & Young, Bain & Co., BCG, McKinsey e Alvarez & Marsal estão na disputa. O objetivo da estatal é concluir esse trabalho em três meses.

Segundo fonte próxima à companhia, Bendine ficou surpreso ao tomar conhecimento do total de empregados na área de comunicação. Ao discutir o assunto, em reunião de diretoria, já antecipou que fará um “corte drástico” neste total. Em alguns casos, a redução pode chegar a até 50%. A estatal planeja rever seu modelo organizacional em todos os setores, incluindo comunicação e marketing.

— A atual estrutura é inconcebível — comentou Bendine com um assessor próximo.

Com uma produção de 2,6 milhões de barris diários de óleo e gás, a Petrobras conta com 469 empregados na área de comunicação institucional e mais 677 em outras áreas da companhia. A anglo-holandesa Royal Dutch Shell, que produz 3,1 milhões de barris diários de petróleo, tem cerca de 600 pessoas na equipe de comunicação. A norueguesa Statoil, que só atua na exploração e produção de petróleo, produz cerca de 2 milhões de barris diários de óleo e tem 176 empregados na área de comunicação.

Segundo uma fonte técnica, existem duas possibilidades para a redução do quadro de pessoal na comunicação. Uma é a extinção das vagas, com o cancelamento do contrato de alguns terceirizados. A outra alternativa é a realocação de funções. Isso porque foram encontradas muitas atividades que não são diretamente da área de comunicação e, hoje, são classificadas dessa forma.

Um dos primeiros passos de Bendine para reestruturar a área de comunicação foi a demissão de Wilson Santarosa do cargo de gerente executivo de Comunicação Institucional em março. Antes de trabalhar na estatal, Santarosa foi dirigente sindical do PT. Ele assumiu o cargo, um dos mais cobiçados na área de comunicação da estatal, em 2003, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

ORÇAMENTO DE R$ 1,2 BILHÕES

No ano passado, a área de Comunicação Institucional — responsável por patrocínios, contratos de publicidade, atendimento à imprensa e planejamento institucional da marca — movimentou um orçamento de cerca de R$ 1,2 bilhão.

Sem se referir ao total de funcionários na área, a Petrobras explicou que tem gerências de comunicação na holding e nas subsidiárias, e que, além da Comunicação Institucional, conta com gerências de comunicação nas várias diretorias.

A Petrobras confirmou que vem trabalhando em um novo modelo de gestão “com foco no aprimoramento da gestão financeira e do modelo de decisões, investindo na sinergia entre as diretorias e em uma maior agilidade para os processos em geral.”