Integrante da Máfia do ISS é preso achaque

Bruno Ribeiro

 

O ex-auditor fiscal da Secretaria de Finanças de São Paulo Luís Alexandre Cardoso de Magalhães foi preso em flagrante, no começo da noite desta quarta-feira, 17, em uma operação do Ministério Público Estadual (MPE) e da Controladoria-Geral do Município (CGM), com apoio da Polícia Civil. 

Operação do MPE e da polícia resulta em prisão de Luis Magalhães

Operação do MPE e da polícia resulta em prisão de Luis Magalhães

 

Delator e ex-integrante da Máfia do Imposto sobre Serviços (ISS), Magalhães é acusado de cobrar propina de fiscais da Secretaria Municipal de Finanças para não incluí-los em uma nova rodada de delações premiadas em andamento no MPE, segundo os agentes. 

A detenção se deu após o ex-integrante da máfia receber um envelope com R$ 70 mil do fiscal Carlos Flávio Moretti Filho, que estava lotado na Secretaria Municipal de Finanças. A prisão aconteceu no Bar do Berinjela, na Praça 20 de Janeiro, no Tatuapé, zona leste. A dupla estava acompanhada de um terceiro auditor-fiscal, Thiago Onório.

Moretti é alvo de processo disciplinar da CGM desde outubro. Magalhães seria ouvido amanhã pelo Departamento de Procedimentos Disciplinares (Proced) da Prefeitura como testemunha do caso. O dinheiro seria um “cala a boca”, para que ele não contasse o que sabia do ex-colega.

Para o MPE e a CGM, Moretti intermediava negociações entre a Máfia do ISS e a Construtora Elias Victor Negri – conhecida pelos prédios de estilo neoclássico no bairro de Higienópolis, região central. A construtora coopera com o MPE. “Inicialmente, Moretti é tratado como vítima: ele estava sendo achacado por Magalhães”, disse o promotor Roberto Bodini, que lidera as investigações. É a mesma situação de Onório, que estaria no bar apenas para acompanhar o colega, vítima do ex-integrante da máfia. 

Prisão. Segundo testemunhas, Magalhães chegou ao bar pilotando uma motocicleta BMW. Para os investigadores, a reunião era para definir o que ele diria no depoimento de amanhã. No local, policiais civis ocuparam uma mesa ao lado do trio e usaram microfones para captar a conversa. O áudio ainda será analisado pela polícia.

Na frente do bar, a movimentação de policiais causou suspeita entre os funcionários do lugar. “Achamos que seríamos assaltados, quase chamamos a polícia”, disse um dos garçons. Ao entender o que havia acontecido, depois do susto inicial, frequentadores do bar e populares aplaudiram e deram parabéns aos agentes envolvidos na ação.

Depois de preso, Magalhães foi levado para o Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), onde foi feito o flagrante. Os outros dois fiscais eram interrogados até a noite desta quarta.

Delações. Desde o começo do ano, o Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec), do MPE, tem feito novas rodadas de delações premiadas envolvendo servidores de Finanças da Prefeitura. Uma força-tarefa, que inclui a Secretaria de Finanças e a CGM, está rastreando a distribuição de dinheiro obtido por esquemas de desvios no ISS e no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) entre servidores e políticos.

Magalhães se mostrou disposto a colaborar com os promotores. Mas, com bens congelados e ainda mantendo um padrão de vida milionário – com passeios de barco e em carros importados, segundo suas fotos na rede social Facebook –, o ex-fiscal viu, segundo o MPE, uma chance de levantar mais dinheiro achacando outros fiscais.

Réu confesso, ele teve 26 imóveis congelados pela Justiça quando a Máfia do ISS foi descoberta, em 2013. A operação que desmontou a máfia havia prendido quatro pessoas – além de Magalhães, os fiscais Eduardo Horle Barcellos, Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral e o chefe de arrecadação da gestão Gilberto Kassab (PSD), Ronilson Bezerra Rodrigues. 

À época do início das investigações, Magalhães já havia confessado o esquema e se voluntariado para entregar os colegas, em troca de redução de pena. Ele ficou famoso após uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo, em que dizia ter gastado todo o dinheiro que obteve no esquema com garotas de programa e festas. Disse também que era “difícil” ser bandido. 

Ao ser detido, Magalhães foi algemado e colocado no chão, na frente do bar. Ele declarou que estava no local “bebendo cerveja” e disse não saber o que era o dinheiro apreendido, enquanto o pacote de cédulas era colocado ao seu lado. Seu advogado, João Ramacciotti, disse que não sabia detalhes da prisão até as 22h40 desta quarta.