MORO ACEITA DENÚNCIA CONTRA 4 EX-DEPUTADOS

 

Além dos ex-parlamentares, mais nove viram réus no Paraná

André Vargas, Pedro Corrêa, Aline Corrêa e Luiz Argôlo são os primeiros ex-parlamentares a se tornaram réus em processos na Lava-Jato

-SÃO PAULO- O juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, aceitou ontem a denúncia contra os quatro ex-deputados federais acusados de ligação com o esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. André Vargas ( sem-partido), Pedro Corrêa (PP-PE), Aline Corrêa (PP-SP) e Luiz Argôlo ( SD- BA) foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) e são os primeiros ex-parlamentares a se tornarem réus em processos abertos na operação.

Dos quatro, apenas Aline Corrêa, filha de Pedro Corrêa, não está presa na Superintendência da PF em Curitiba. Além deles, outros nove denunciados pelo MPF também tiveram as denúncias aceitas e passaram a ser réus.

Segundo o procurador Deltan Dallagnol, Pedro Corrêa era um dos responsáveis por distribuir dinheiro no PP e “recebeu também valores específicos em benefício próprio”. Corrêa foi denunciado por 280 atos de corrupção passiva. Segundo a denúncia, os valores envolvidos nesses atos somam R$ 398,6 milhões. Foram denunciados ainda 569 atos de lavagem de dinheiro e 123 atos de peculato do ex-deputado.

No caso de Vargas, ex-deputado do PT, os procuradores sustentam que a corrupção ocorreu em contratos da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde, por meio da agência de publicidade Borghi Lowe e da empresa Labogen.

— Em relação ao Ministério da Saúde, temos evidências de que Vargas conseguiu um termo de parceria entre o ministério e a Labogen. Já quanto à Caixa, várias ligações para um diretor da Caixa foram feitas pelo celular do próprio Vargas — afirmou Dallagnol.

Já Argôlo criou uma relação com o doleiro Alberto Youssef diferente dos demais parlamentares envolvidos. Para o MPF, “ele criou relação de sociedade com o doleiro Alberto Youssef”:

— Então, muitas vezes, Alberto ( Youssef ) repassava dinheiro diretamente para o Argôlo — afirmou o procurador Paulo Galvão.

Argôlo foi denunciado por dez atos de corrupção. Segundo a denúncia, os valores envolvidos nestes atos são de R$ 1,6 milhão. Foram denunciados ainda dez atos de lavagem de dinheiro e 93 atos de peculato do ex-deputado.

DESCONFORTO COM PROPINAS

Em depoimento à Justiça Federal, ontem, o executivo da Camargo Corrêa Eduardo Leite disse ter ouvido de representantes de outras empresas que elas também pagavam propina. Em depoimento anterior, ele admitia só a participação de outras empresas em cartel para divisão de contratos, mas não citava propinas.

— O Ricardo Pessoa (da UTC) determinada vez comentou: “pô, essa situação é desconfortável, esses acertos que a gente tem que fazer, esses volumes de dinheiro”. Ele fez uma reclamação nesse sentido. Em outra situação, Márcio Faria, da Odebrecht, fez a mesma reclamação — disse Leite.

Pessoa admitiu pagamento de propina em acordo de delação premiada. Em nota, a Odebrecht negou os pagamentos e atribuiu as declarações a “desavenças na disputa de contratos”. “Não surpreende que executivos da Camargo, obrigados a prestar declarações para negociar benefícios penais, as façam motivados por um sentimento de vingança concorrencial”, escreveu a empresa.