Título: O endereço da indignação
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Fonte: Correio Braziliense, 11/08/2011, Opinião, p. 22

A indignação claramente percebida na opinião pública desde terça-feira, quando a Polícia Federal (PF) prendeu 35 acusados de desvio de verbas do Ministério do Turismo, é um dado positivo. Mas precisa ser corretamente compreendida, sob pena de não se aproveitar o que de melhor contém. Os líderes aliados do Planalto parecem incapazes de entender que a indignação da sociedade não é com o governo, mas contra o despreparo de uns e a má-fé de muitos dos indicados por eles para tomarem conta do dinheiro público. Nem mesmo os mais empedernidos oposicionistas têm podido negar reconhecimento aos atos, à postura e à determinação da presidente, não apenas para preservar as conquistas no campo econômico, como para afastar quem acha que pode cobrar pelo apoio político o preço da corrupção. Afinal, tem sido irretocável a ação de Dilma Rousseff em face desses acontecimentos. Sem precipitações, mas também sem complacência, a presidente inaugurou a iniciativa da faxina nos governos recentes do país.

Perdidas em meio a uma guerra por espaços a qualquer custo, as lideranças partidárias da base aliada nem mais escondem seu fogo pesado contra as posições que consideram inimigas. Não foi outra coisa que se explicitou ao longo dos episódios dos ministérios dos Transportes e da Agricultura, senão o jogo infame entre esses partidos. Tampouco parecem medir a inclinação natural da opinião pública em favor das vassouradas que a presidente julgar prudente aplicar na limpeza dos órgãos da administração federal. Ela já sabe que pode contar com isso, mesmo ante o impacto das ações da Polícia Federal, que nada mais fez que cumprir seu papel.

No caso do Turismo, pesa o número de prisões e a forma como elas se deram. Pesa também a relevância dos cargos ocupados pelos acusados de corrupção: entre eles estava o secretário-geral, segundo na hierarquia da pasta, abaixo apenas do ministro, além de executivos e assessores da cúpula. Mas o que, sem dúvida, ajudou a engrossar o caldo das perplexidades é que o escândalo nesse que é um dos ministérios menos aquinhoados pelo Orçamento Geral da União veio completar uma sequência de abalos morais produzidos nos últimos meses. A saída traumática de Antonio Palocci da Casa Civil foi seguida pela desgastante queda da cúpula do Ministério dos Transportes e do recente afastamento do secretário-geral do Ministério da Agricultura.

É normal a saída de ministros e auxiliares. Mas não a de tantos em tão pouco tempo, muito menos pelo mesmo motivo: denúncias pesadas de corrupção, formação de quadrilha, desvio de verbas públicas. É natural, depois dessa série concentrada em pouco mais de sete meses de governo, que se propaguem dúvidas quanto à integridade de outros ministérios, autarquias e empresas do governo. É também previsível que os líderes da oposição ¿ quase sempre pautados pela imprensa, pela polícia ou pelo Ministério Público ¿ procurem ampliar os decibéis de cada caso, inclusive tentando prolongar a exposição dos envolvidos, culpados ou não, por meio de investigações do Congresso (CPIs). Mas é preciso separar bem as coisas. Não é honesto nem construtivo para a democracia brasileira tentar colar no governo empossado em janeiro a responsabilidade por esses escândalos.