Na linha de frente, os fiéis escudeiros de Eduardo Cunha

 

Deputados viabilizam projetos e defendem parlamentar na CPI

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem fiéis escudeiros na Casa, dentro e fora de seu partido. São parlamentares que atuam em várias linhas de frente, seja defendendo Cunha de acusações na Operação Lava-Jato ou viabilizando aprovação de projetos de interesse do presidente, como as propostas de redução de ministérios e da maioridade penal. Os “homens de Cunha” estão em postos-chave, como presidências da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB); da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Arthur Lira (PP-AL); e da Comissão da Maioridade Penal, André Moura (PSC-SE).
GIVALDO BARBOSA/11-02-2015
Padrinho. O líder peemedebista na Câmara, Leonardo Picciani, observado por Eduardo Cunha
Líder sindical e envolvido em algumas das cenas mais inusitadas da Câmara nesta legislatura — a soltura de ratos na CPI da Petrobras e o voo de dólares falsos sobre a bancada do PT durante a votação do ajuste fiscal —, o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, é pau para toda obra a serviço de Cunha. Atuou com vigor na aprovação do projeto da terceirização, como queria Cunha, e faz a defesa do presidente na CPI.
Na última terça, Paulinho foi o único a ter permissão de entrar na presidência do Senado, no encontro a portas fechadas de Renan Calheiros com Cunha. O parlamentar diz que conversa todo dia com Cunha. Naquele dia, os dois haviam se encontrado na residência oficial da Câmara, por volta das 12h. À tarde, Paulinho e a Força organizaram barulhento protesto no Salão Verde, após ter conseguido autorização da presidência para colocar seus manifestantes para dentro do plenário.
— Converso com ele todos os dias. Se ele não está aqui, vou à residência — disse Paulinho.
No partido, Cunha conseguiu eleger Leonardo Picciani (RJ) para líder do PMDB na Câmara. Mas a disputa criou fissuras com importantes aliados, como Danilo Forte (PMDB-CE) e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que perdeu a disputa para líder por um voto para Picciani. Vieira se reaproximou de Cunha e eles se juntaram no objetivo de confrontar o Palácio do Planalto. Assegura que os laços com o presidente permanecem fortes.
— Se eu ligo e ele não pode atender, ele me liga imediatamente ou manda mensagem. Mas nunca deixa de atender — contou Lúcio Vieira.
Na CPI da Petrobras — Cunha é investigado pelo STF nesse inquérito —, o presidente escalou seu time de apoiadores. Celso Pansera (PMDB-RJ), parlamentar de primeiro mandato, é desse grupo. É defensor de Cunha, diz acreditar na sua inocência e rebate as críticas ao presidente:
— Conheço Eduardo Cunha pessoalmente desde 2013, quando me filiei ao partido. Trabalhei para sua eleição à presidente da Câmara. Estou na CPI, mas ele nunca me fez qualquer pedido. Minha sensação é a de que ele não tem qualquer envolvimento (no caso da Lava-Jato).
DEFESA CONTUNDENTE
O líder Leonardo Picciani segue à risca o script de Cunha, a ponto de repetir suas expressões cotidianas. Suas orientações à bancada são discutidas com o presidente da Câmara, que tem dito que o partido vive um de seus melhores momentos.
Cunha se elegeu presidente da Câmara e deu espaços para seus aliados. Hugo Motta preside a CPI da Petrobras e, com frequência, irrita os petistas na condução dos trabalhos. Enfrentar o PT tem sido rotina também para Cunha. Motta já foi acusado pelo PT de fazer vazamentos seletivos de informações que chegam à comissão, fato negado pelo comandante da CPI.
O deputado André Fufuca (PEN-MA) é aliado de primeira hora. Integrou a comissão que em março foi ao Hospital Sírio-Libanês, em SP, para checar se Cid Gomes, então ministro da Educação e algoz de Cunha, estava de fato com problemas de saúde. Graças a isso, Fufuca ganhou a relatoria da CPI das Órteses e Próteses, missão que sempre dá visibilidade no Congresso. O governo havia indicado Jorge Solla (PTBA) para a relatoria, mas ele foi preterido.
André Moura (PSC-SE) talvez seja o mais polivalente da tropa de choque. Ele trabalhou arduamente pela admissibilidade da proposta de redução da idade penal, defendida por Cunha; conquistou a presidência da comissão que vai discuti-la. Na CCJ, relatou a proposta de emenda constitucional, de autoria do próprio Cunha, que prevê a redução dos ministérios de 38 para 20. Na CPI da Petrobras, Moura foi um dos mais enfáticos defensores de Cunha, quando o presidente prestou seu depoimento, no início de março:
— Vossa Excelência (Cunha) veio aqui colocar verdadeiramente os pingos nos is. Ficou claro que foi escolhido, com todas as letras, para ser investigado. As acusações são muito frágeis. Trata-se de tentativa de intimidá-lo pelas ações que tem feito, pautando matérias que não são de interesse do Planalto. E quem fará a reparação por ter colocado Vossa Excelência nessa berlinda? O MP? O senhor Janot? Vossa Excelência não perde, de maneira alguma, a autoridade para presidir esta Casa.