Lula reclama com Pt de 'bola nas costas' na CPI

Vera Rosa

Ricardo Galhardo

 

Sem esconder a irritação com os rumos da CPI da Petrobrás, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou ontem, 12, um pito em dirigentes e deputados do PT e telefonou para o vice-presidente Michel Temer para se queixar do comportamento da bancada do PMDB. O motivo do mal-estar foi a aprovação, na quinta-feira, 11, da convocação de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, na CPI instalada para apurar irregularidades na estatal.

“Vocês não podem deixar o PT levar essa bola nas costas”, disse Lula, em conversa reservada com petistas, no segundo dia do 5.º Congresso nacional do partido, em Salvador. “Será possível que vocês não veem que querem nos emparedar? Isso é inadmissível”, afirmou.

Preocupado, o ex-presidente deu voz de comando para a reação. Pediu que deputados formem uma “tropa de choque” para monitorar tudo o que entra contra ele, PT e governo na CPI. “Levantem quanto o Instituto Fernando Henrique (Cardoso) arrecada em doações e convoquem alguém de lá também para essa CPI”, insistiu Lula.

A CPI aprovou, com apoio do PMDB, a convocação de Okamotto após a divulgação da informação de que o Instituto Lula recebeu da Camargo Corrêa, alvo da Operação Lava Jato, R$ 3 milhões, de 2011 a 2013. A empresa LILS Palestras, Eventos e Publicidades, do ex-presidente, também ganhou R$ 1,5 milhão da empreiteira. O Instituto Lula diz que todas as contribuições de empresas são legais.

Telefonemas

O apoio do PMDB à ofensiva contra o PT na CPI foi o motivo da ligação de Lula a Temer, que é articulador político do governo e presidente do PMDB. O vice disse discordar da decisão, mas ponderou que a bancada tinha autonomia. Lula também telefonou para Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI, e lhe deu uma bronca. “Como é que você deixa convocar o Okamotto? Você não vê que querem nos destruir?”

Okamotto disse estar “à disposição” da CPI, mas estranhou a coincidência da convocação com a abertura do congresso. “Sempre acontece alguma coisa quando tem reunião importante do PT”, disse. “Nós somos da paz, mas eles não deixam a gente em paz. Querem bombardear o PT todo santo dia”, reclamou Lula. “É preciso requalificar a coalizão de governo”, disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE).

Dízimo

Apesar da contrariedade com o PT, Lula foi aplaudido de pé, ontem, ao anunciar a plataforma digital para recebimento de doações ao partido. “É Lula, de novo, com a força do povo”, gritavam os militantes, numa referência ao slogan da campanha de 2006.

O gesto foi interpretado como uma “prévia” do lançamento de sua candidatura à sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2018, e um desagravo do partido a ele. “É claro que todos iam manifestar sua solidariedade a Lula”, afirmou José Guimarães.

No congresso, Lula deu autógrafos, posou para fotos e pediu que todos passem a pedir “dízimo” aos militantes para sustentar o partido. O PT decidiu empurrar para o Diretório Nacional a decisão sobre doações empresariais. Em abril, o partido proibiu as doações, mas ontem o tesoureiro do PT, Márcio Macedo, afirmou ser favorável a que diretórios estaduais e municipais recebam essas contribuições para saldar dívidas de campanha.