Governador critica Justiça por soltar criminosos que PM prende
O governador Luiz Fernando Pezão endureceu ontem o tom do seu discurso em relação à aplicação das leis pela Justiça. Para ele, não adianta a polícia prender bandidos, “se no dia seguinte um desembargador concede liminar para soltá-los". Pezão repetiu que é preciso discutir com a sociedade o grande número de jovens apreendidos. Nos últimos meses, ele tem defendido a redução da maioridade penal para crimes hediondos e o endurecimento de penas para os casos de assassinato de policiais:
— A polícia bateu recorde de prisões em abril, sendo que cerca de 60% eram menores. No Aterro, prendemos 31 pessoas na semana passada. No outro dia, estavam todos soltos. Quando alguém rouba uma bicicleta ou um cordão com uma faca não é (considerado) um crime de grande monta. Não são crimes que fazem com que as pessoas fiquem presas. O policial entra por uma porta da delegacia e a pessoa sai por outra. E quando fica preso, infelizmente, o desembargador dá uma liminar soltando todos. Se for para cumprir essa lei que está aí, a gente tem que discutir isso com a sociedade.
Pezão contou ainda que esteve na Lagoa esta semana e pediu reforço no efetivo policial.
— Eu mesmo cobrei da polícia. Estamos fazendo ronda permanente. Eles tinham prendido oito menores do Jacarezinho, que estavam assaltando, e os levaram para a delegacia — disse, lembrando que após o início da operação Lapa Presente, há um ano, os assaltos se deslocaram para Lagoa, Aterro e Méier.
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, rebateu as críticas do governador. O desembargador afirmou que não há relação entre a morte de Jaime Gold e a ação da Justiça:
— Compreendo o desabafo do governador, mas não posso aceitar essa generalização perigosa, de que num dia a polícia prende e no outro um desembargador solta. Não há relação de causalidade entre a morte trágica do ciclista, mais uma tragédia urbana, e a ação da Justiça. O que faltou foi um policiamento ostensivo eficiente, que fosse preventivo e impedisse a barbárie. Esse tipo de generalização pode levar a raciocínios e compreensões equivocadas”.
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Secretário diz que morte de médico ‘é inadmissível’
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, classificou como “inadmissível” a morte do médico Jaime Gold. A declaração está num vídeo gravado por ele e postado ontem no Twitter oficial do órgão (SegurançaRJ).
Segundo Beltrame, numa tentativa de evitar que novos crimes na Lagoa, horas antes do assassinato do cardiologista, havia sido determinada a troca do comando do 23º BPM (Leblon). Ele disse que a primeira missão do novo comandante, coronel Joseli Cândido da Silva, será planejar um esquema de policiamento na região com a Guarda Municipal.
— É mais do que lamentável. É inadmissível o que aconteceu ontem (terça-feira), na Lagoa, lugar querido pelos cariocas, frequentado pela população do Rio e pelos turistas. Cenas como essas não podem se repetir. A Lagoa é um cartão-postal. Não podemos permitir — disse.
Há cerca de uma semana, Beltrame havia dito que a população devia pensar bem antes de chamar a polícia, ao comentar a ação com facas da gangue do Aterro, referindo-se a questões sociais envolvidas e ao que chamou de “pega e solta” pelo fato de porte de arma branca ser contravenção.
JOGOS OLÍMPICOS
O prefeito Eduardo Paes, depois de uma reunião com o Comitê Olímpico Internacional (COI), evitou relacionar a violência aos Jogos de 2016:
— (Segurança) Não é área da prefeitura, mas confio na política de segurança do secretário Beltrame e do governador Pezão. Segurança é um tema de todos nós cariocas, não é algo relacionado às Olimpíadas — disse. — A Lagoa chama mais atenção, mas uma criança de 13 anos morreu ontem (terça-feira) no Dendê.
Questionado sobre ações da prefeitura para melhorar a segurança de bairros, como a poda de árvores que interfere na iluminação, avaliou:
— É das coisas mais difíceis. Às vezes, tem o fio da Light, aí precisa da Light para podar — afirmou. — Quando o lugar está bem mantido, limpo, que até é o caso da Lagoa, a gente tem um ambiente melhor — acrescentou, embora moradores reclamem de iluminação deficiente na Lagoa.