PT aprova crítica 'light' a ajuste em tese congresso

Vera Rosa

Ricardo Galhardo

 

Após três dias de discussões, o PT decidiu neste sábado não confrontar a presidente Dilma Rousseff e atenuou ainda mais as críticas à política econômica. Intitulado Carta de Salvador, o documento aprovado como resolução do 5º Congresso do PT evitou ataques ao ajuste fiscal e, num aceno à base social do partido, defende estratégias para a retomada do crescimento, com a preservação dos direitos dos trabalhadores.

"É preciso conduzir a orientação geral da política econômica para a implementação de estratégias para a retomada do crescimento, para a defesa do emprego, do salário e dos demais direitos dos trabalhadores, que permita a ampliação das políticas sociais", diz o documento que passou pelo crivo do 5° Congresso petista, em Salvador.

A emenda aprovada foi resultado de um acordo entre as duas correntes que mediram forças durante todo o encontro, a majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a Mensagem ao Partido, do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro. O grupo de Tarso e correntes mais radicais queriam encaixar no texto a expressão "alterar a política econômica", mas foram derrotados. Recentemente, o governo conseguiu aprovar no Congresso Nacional medidas provisórias que restringem benefícios como o seguro-desemprego e o abono salarial.

Em meio a gritos de "Fora Cunha", o PT também rejeitou proposta de tendências mais à esquerda que pregavam a ruptura da aliança do partido com o PMDB. A emenda derrotada chamava o PMDB do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), de "sabotador do governo".

O partido também decidiu manter o Processo de Eleição Direta (PED), alvo de denúncias de compra de votos, para a escolha dos dirigentes petistas. Favorável à mudança da direção, no rastro das crises de corrupção que abalaram o partido, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, não escondeu sua irritação: "O partido é de massas, mas não de massa de manobra", reagiu. "Isso aqui não é democracia de verdade. É manipulação de pessoas."

Política econômica

Na prática, apesar de dividido, o grupo do ex-presidente Lula conseguiu manter a espinha dorsal da resolução sem ataques diretos à política econômica capitaneada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como queria o Palácio do Planalto. "Não será com a proposta de rompimento, nem aberta nem velada, que vamos fortalecer nossa estratégia", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE). Gritos contra o ajuste, com pedidos de recontagem de votos, marcaram as disputas entre as correntes no plenário. "A CUT tem razão. Ajuste é recessão!", bradavam os militantes.

A pedido do Planalto, a corrente de Lula e o grupo do presidente do PT, Rui Falcão, conseguiram retirar do texto a defesa da CPMF, o imposto do cheque, depois que o ministro da Saúde, Arthur Chioro, revelou as negociações em curso com governadores e prefeitos para criar um modelo de financiamento do setor. Chioro foi desautorizado por Levy e o PT suprimiu a referência à CPMF na Carta de Salvador.