- A parceria da petroleira chinesa Sinopec com a Petrobras para construir a refinaria Premium 1, no Maranhão, não deslanchou porque os chineses deixaram claro que não confiavam na paridade de preços no Brasil (equilíbrio entre os preços internos dos combustíveis e do petróleo no mercado internacional) e exigiram uma rentabilidade mínima de 12% ao ano — enquanto a Petrobras trabalhava com um índice de 8,7%. A refinaria iria processar diesel para exportação. A exigência dos chineses foi relatada pela então presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, em reunião do conselho de administração da estatal em 23 de janeiro, segundo áudio ao qual o GLOBO teve acesso.
— Ela (Sinopec) foi clara na carta dela, tem um item ali embaixo, de que não há paridade de preços no Brasil, não dá para confiar, então, tem que ter TMA (taxa mínima de atratividade) lá em cima. Como é que a gente pode garantir a eles uma TMA de 12% ao ano? (...) É a cláusula Marlim vezes dois (risos) — disse Graça aos colegas de conselho ao justificar a decisão de interromper os projetos das refinarias Premium 1 e 2, esta última no Ceará.
A cláusula Marlim foi um dos fatores que provocou o prejuízo da estatal na compra da refinaria de Pasadena. Pela cláusula Marlim, a Petrobras se comprometia, em contrato junto à sócia belga Astra Oil, a assegurar um retorno mínimo de 6,9% ao ano. A cláusula ajudou a elevar o prejuízo total da estatal com a refinaria americana, de US$ 792 milhões.
PROBLEMA POLÍTICO
Na mesma reunião, Graça admitiu que a suspensão das refinarias causaria problema político para ela. Mas, do ponto de vista econômico, ela apontou que as refinarias só seriam necessárias a partir de 2025 e arrastar as obras seria uma “bola de neve”:
— A primeira demanda desse refino, se acontecer, é 2025. Como posso ficar com esse projeto em carteira? Isso é uma bola de neve, que acaba prejudicando a Petrobras e o próprio governo.
Silvio Sinedino, ex-conselheiro representante dos trabalhadores, apontou que as refinarias sempre foram, para os investidores, “uma espada na cabeça” da Petrobras. Mauro Cunha, que era representante de minoritários, cumprimentou a diretoria executiva pela decisão de suspender as refinarias:
— Estamos recuperando a credibilidade da Petrobras. A gente dizer internamente que vamos deixar a Premium para 2050 e continuar dizendo no PNG (planejamento) que tem uma refinaria Premium em algum lugar... Nós viramos motivo de chacota entre os investidores.
Procurada, a Petrobras informou que não comentaria “informações supostamente oriundas de vazamentos ilegais”.