Doleira rouba a cena na CPI da Petrobras

 

Mais magra, cabelo raspado e sem timidez para soltar a voz, a doleira Nelma Kodama deixou boquiabertos os integrantes da CPI da Petrobras que ontem a ouviram explicar sua relação com o doleiro Alberto Youssef e a denúncia de que tentou fugir do país com 200 mil euros na calcinha. Primeiro, negou que o dinheiro estava escondido na lingerie: levantou-se, virou-se de costas, suspendeu o casaco e enfiou as duas mãos nos bolsos traseiros da calça, onde, segundo ela, estava o dinheiro.

Logo depois, uma nova cena tirou a concentração dos deputados. Enquanto falava de sua relação com Youssef, a doleira sorriu, levantou os dois braços e começou a cantar um trecho de "Amada Amante", música de Roberto e Erasmo Carlos

- Amanda, amante, aaaamada, amante..... Não é verdade? - cantou, com a ajuda de um Backing vocal do próprio deputado Altineu Côrtes (PR-RJ), que perguntara a Nelma se o doleiro era mesmo seu amante.

- Depende do que o senhor entende como amante. Eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é ser amigo, é ser esposa, pode ser tudo. Tem a música do Roberto Carlos.

O pequeno número musical levou Nelma ser repreendida pelo presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB):

- Senhora Nelma, não estamos num teatro. Eu gostaria que vossa senhoria se detenha a responder as perguntas, mantendo a ordem e o respeito ao Congresso Nacional que, neste momento, está aqui fazendo a CPI.

O depoimento, que durou cerca de três horas e meia, teve outro momento curioso e que arrancou risadas de quem ocupava o auditório da Justiça Federal: foi quando Nelma explicou onde estavam guardados 200 mil euros em seu poder, ao tentar viajar para a Itália. Outra performance se seguiu:

- Duzentos mil Euros são dois pacotinhos, eles não estavam na calcinha, estavam no bolso de trás da calça - explicou a doleira, já de pé, provocando novo constrangimento.

Condenada a 18 anos de prisão em processos da Operação Lava-Jato, Nelma afirmou que "o Brasil é movido a corrupção", disse que hoje tem vergonha de dizer que é doleira e elogiou o juiz federal Sérgio Moro, que está à frente dos processos da Lava-Jato na primeira instância, no Paraná.

Operador irrita deputados. Também foi ouvido operador René Luiz Pereira, condenado por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. O depoimento durou cerca de vinte minutos. Houve um bate-boca entre ele e o deputado Aluísio Mendes (PSDC-MA), logo após Pereira ter afirmado que a droga encontrada com ele (698 quilos de cocaína) teria sido plantada pela polícia. Ele insinuou que, assim cono não confiava na Polícia Federal, "não poderia confiar nos parlamentares da CPI". A declaração revoltou os parlamentares, principalmente Mendes.

- Se o senhor for, de alguma maneira, agressivo aqui nesta CPI, receberá voz de prisão de mais um caso - disse.

Pereira se recusou a responder outras perguntas e a sessão foi encerrada.