Contas suspeitas

 

 As contas do governo federal, e também as do Partido dos Trabalhadores, estão sob o escrutínio da Justiça, e não há boas notícias pela frente. Na Justiça criminal, o uso de uma gráfica ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para lavagem de dinheiro entre 2010 e 2013 transformou em réus o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto e o ex-diretor da Petrobras indicado pelo PT Renato Duque no processo do petrolão.

Na Justiça Eleitoral, devido à revelação de “de fatos gravíssimos” relacionados às contas da campanha presidencial de 2014, o ministro Gilmar Mendes, do TSE, "prorrogou por um ano decisão que obriga que os arquivos eletrônicos da prestação de contas da presidente e do comitê financeiro do PT em 2014 fiquem disponíveis no site do tribunal".

E o Tribunal de Contas da União (TCU) enviou para o Ministério Público as conclusões de uma auditoria sobre as chamadas “pedaladas fiscais”, para ver se estão caracterizados crimes, que podem definir o crime de responsabilidade da presidente Dilma, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, ou dos dirigentes do Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Tanto nas contas anuais quanto nas da eleição de 2014 o PT é acusado de usar gráficas para lavar dinheiro. A Gráfica Atitude, cujo endereço é o mesmo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, teria sido usada em operações de lavagem de R$ 2,4 milhões. Parte da propina paga para Renato Duque, então diretor de Serviços da Petrobras, foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça, para a Editora Gráfica Atitude Ltda., a pedido de João Vaccari Neto, então tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT).

Com relação à campanha presidencial do ano passado, surgiram indicações de que outra gráfica, a VTPB, teria recebido 22,9 milhões da campanha de Dilma Rousseff para impressão de folhetos de campanha, mas no seu endereço não há gráfica nenhuma. A explicação oficial é que ela servia de distribuidora dos serviços para outras gráficas, que imprimiriam os pedidos do partido, o que está gerando suspeita de lavagem de dinheiro. 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou também o PT a multa de R$ 4,9 milhões por irregularidades nas contas do partido de 2009. A sanção mais rigorosa, porém, tem a ver ainda com o mensalão. Por ter usado recursos do Fundo Partidário para pagar um empréstimo fictício ao Banco Rural, o PT perdeu o direito de receber dinheiro do Fundo por três meses, o equivalente a R$ 10,6 milhões em valores do ano passado.

Cheiro de Watergate

Em resposta a pedido do Estado de S. Paulo, baseado na lei de acesso à informação, a direção da Petrobras informou que foram eliminados os registros em áudio e vídeo das reuniões do Conselho de Administração que trataram de obras que estão sendo investigadas pela Operação Lava-Jato e a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Tudo com a participação da presidente Dilma na presidência do Conselho.

A explicação é que o Regimento Interno da estatal autoriza a eliminação dos vídeos depois que as atas das reuniões são aprovadas. A questão é que as atas não reproduzem os diálogos e as discussões, descrevendo apenas as decisões tomadas.

Não é a primeira vez que os registros, eletrônicos ou não, envolvendo Dilma Rousseff desaparecem. Quando ela era Chefe do Gabinete Civil, foi acusada de ter tido uma reunião com a então secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira e pediu, segundo relato dela, para "agilizar a fiscalização do filho do senador Sarney".

Dilma negou o encontro e não houve registro dele nas agendas nem da Presidência nem da Receita Federal, e o vídeo que supostamente revelaria quem se encontrara com a presidente naquele dia nunca foi encontrado.

O presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, teve que renunciar ao cargo quando se descobriu, no desenrolar do escândalo de Watergate, que parte de uma fita da gravação de suas audiências fora adulterada.