Valor econômico, v. 15, n. 3745, 29/04/2015. Brasil, p. A7
Marta ataca PT em carta de desfiliação
Por Cristiane Agostine e Fernando Taquari | De São Paulo
Marta Suplicy deve ser anunciada até o meio do ano como pré-candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo em 2016
Ex-vice-presidente do PT, a senadora Marta Suplicy (SP) entregou ontem carta de desfiliação aos diretórios municipal, estadual e nacional do partido. No documento de quatro páginas, Marta afirma que a legenda é protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção do país e que os crimes envolvendo petistas, que estão sob investigação, geram "um grande constrangimento". O PT reagiu com indignação às críticas e sinalizou com a possibilidade de reivindicar na Justiça o mandato da senadora, que deve ser anunciada até o meio do ano como pré-candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo em 2016.
Na carta, repleta de ataques ao PT, Marta afirma que não tem compromisso com os "reiterados desvios programáticos", nem com os erros cometidos pelo partido. "Aqueles que, como eu, acreditaram nos propósitos éticos de sua carta de princípios, consolidados em seu programa e em suas resoluções partidárias, não têm como conviver com esta situação sem que esta atitude implique uma inaceitável conivência", escreve. Diz ainda que o PT não só deixou para trás seus princípios éticos, como não tem mais abertura para o diálogo com suas bases e filiados.
A senadora deve ser uma das principais adversárias do prefeito Fernando Haddad (PT) na eleição do ano que vem. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, assegurou que Marta será anunciada como pré-candidata do partido à sucessão municipal assim que sua filiação à sigla for confirmada. A ex-petista, inclusive, já conta com o apoio de lideranças do PPS, que se reúnem hoje com dirigentes do PSB para discutir a ideia de fusão entre as duas legendas.
Na tentativa de manter o mandato e evitar questionamentos jurídicos ao migrar para outro partido, a senadora alegou que está sendo perseguida pelo comando partidário e que foi "isolada e estigmatizada" na legenda. A presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foram poupados de críticas na carta. A ex-petista, porém, não tem se furtado a fazer ataques públicos ao governo e à presidente em artigos e entrevistas.
O PT reagiu com ataques ao pedido de desfiliação, além de classificar as críticas como infundadas. Em nota assinada pelos presidentes dos diretórios nacional, estadual e municipal de São Paulo, o partido acusou Marta de falta de ética e de coerência, afirmou que a senadora desonra o mandato e criticou a ex-prefeita por se alinhar com a oposição. Na avaliação dos dirigentes, a desfiliação foi motivada por "ambição eleitoral" e por um "personalismo desmedido".
O comando petista entende que a ex-ministra e ex-prefeita se alinhou "de forma oportunista" a quem sempre combateu". A declaração faz referência à hipótese de a senadora ter o apoio informal do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na disputa municipal. O presidente do diretório paulista do PSB, Márcio França, é vice do tucano e a migração de Marta foi articulada com o aval do PSDB. Uma possível candidatura da ex-petista é vista com bons olhos pelo Palácio dos Bandeirantes, sobretudo pela perspectiva de dividir os votos de Haddad.
Alckmin comemorou a saída de Marta do PT ao dizer que representará um importante reforço para a oposição na capital paulista. "É uma decisão importante do ponto de vista político", disse o tucano na saída de um evento. O governador evitou, no entanto, especular sobre a possibilidade de uma aliança entre PSDB e PSB na eleição paulistana. "Esse é um assunto do partido. É bom ouvir o presidente do PSDB. Sempre tivemos candidato a prefeito", explicou.
Diante da movimentação de Marta, o PT está dividido em relação ao pedido de cassação do mandato. Dirigentes municipais e petistas ligados a Lula defendem que o partido peça o mandato da senadora na Justiça. Já o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, que foi braço-direito de Marta na Prefeitura de São Paulo, afirmou que o PT não deve investir na cassação.
O comando do diretório municipal do PT de São Paulo discutirá a desfiliação de Marta em reunião da Executiva na próxima semana. O presidente do diretório paulistano, vereador Paulo Fiorilo, disse que o partido não definiu o que fará sobre o mandato. "O PT está muito dividido. É uma decisão difícil. Tem uma parte da militância muito irritada com a decisão de Marta e que pede a cassação do mandato dela. Mas quem tem que decidir isso é a direção do partido", disse Fiorilo.
A decisão de pedir o mandato de Marta caberá ao presidente do diretório estadual, Emídio de Souza. O primeiro suplente da ex-prefeita no Senado é Antonio Carlos Rodrigues (PR), atual ministro dos Transportes. O segundo suplente é Paulo Frateschi.