Título: O poder na ponta dos dedos
Autor: Maciel, Alice
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2011, Política, p. 8

DEMOCRACIA ELETRÔNICA

Grupos na internet se organizam para criar partidos sem ideologia. A missão dos seus futuros parlamentares será votar projetos de acordo com o que for decidido por debates na rede

Em 1988, Cazuza lançava o álbum Ideologia. Foi um grito, como ele mesmo definiu na época, de uma geração "sem ideologia, compactada entre os anos 1960 e os dias de hoje". Passados 23 anos, jovens continuam a buscar uma forma de preencher o vazio "de uma geração sem participação política alguma", frase dita pelo compositor nos anos 1980. Surge,no entanto, uma onda contrária à ideologia partidária. Com o anseio de aumentar a participação dos cidadãos na vida política, alguns grupos estão se organizando no país para fundar partidos diferentes dos 27 que existem atualmente. A nova ideia, herdada de países europeus, é usar a internet para debater, comentar e votar diretamente todas as leis em discussão nas casas legislativas.

Em outubro do ano passado, mês das eleições, um grupo de 20 pessoas teve a ideia de criar um partido político "que realmente representasse os interesses dos cidadãos", contou um dos idealizadores, o servidor público de Brasília Alexandre Paranhos, 34 anos. Inspirados no partido sueco Demoex, que elegeu logo na primeira disputa um representante na Câmara Municipal de Vallentuna, os jovens pretendem trazer para o Brasil a experiência de democracia direta eletrônica, com votações pela internet. Com o programa partidário pronto, os integrantes do Partido Cidadãos tentam criar a plataforma política para começar a colher as 500 mil assinaturas cobradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o registro. "Hoje, por meio da internet, finalmente podemos retirar uma parte importante do poder político de nossos representantes e devolvê-lo ao cidadão, seu dono legítimo", defende Alexandre. Ele observa que o partido terá dois ideais: dar a todos os cidadãos voz ativa nas decisões política e apoiar um debate em que os pontos a favor e os contra de qualquer um possam ser discutidos abertamente.

Eleições municipais No programa partidário, o Cidadãos se propõe a criar um site para que qualquer eleitor filiado possa opinar e votar nos projetos de lei em tramitação em todas as casas legislativas onde a legenda tiver representantes. Os parlamentares terão a obrigação de votar em projetos conforme o resultado das votações on-line. Antes das decisões, será feito um debate no fórum, também virtual."Temos vontade de conseguir registrar o partido para as eleições municipais do ano que vem, mas não sei se vai dar tempo", disse Alexandre.

Uma iniciativa parecida com a do Cidadãos, o Partido da Internet (PDI), inspirado no Partido da Internet espanhol, também pretende nascer sem ideologia. O papel dos eleitos pelo PDI, de acordo com Gian Carlo Martinelli, um dos mentores da proposta, é o de "deixar de ser simples representante passando a ser executor da vontade popular".

O Partido Pirata do Brasil (PPBr), movimento iniciado em 2007, tem um manifesto construído na internet, a muitas mãos. O PPBr defende, entre outros, o direito à liberdade de expressão; o direito de livre acesso à cultura; e o direito à intimidade, incluindo a privacidade de informações e dados pessoais. Com 140 membros, o partido só deve disputar as eleições em 2014.