Título: Líderes indecisos
Autor: D'Angelo, Ana; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2011, Economia, p. 14
O nervosismo demonstrado pelos mercados, na semana passada, reflete, segundo os especialistas, não só a possibilidade de uma recessão global, mas também a falta de confiança de que os líderes dos países com graves problemas fiscais sejam capazes de resolver as crises internas. Isso vale, principalmente, para as nações da Zona do Euro. "As lideranças da Europa não demonstram capacidade política de coordenar as ações conjuntas", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
A falta de comando na condução dos rumos da economia global também é destacada pelo professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Simão Davi Silber. "Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, os líderes mostram uma incapacidade para tomar decisões. Falam, mas não agem, um sinal de total falta de liderança", afirma. Essa visão vale para a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, e para Nicolas Sarkozy, presidente da França.
Há, ainda, outro ponto importante a ser avaliado, no entender de Silber. "O mundo rico não se recuperou da crise financeira de 2008. O arsenal usado para salvar os bancos naquele momento está se mostrando inadequado e ineficiente, por razões políticas e econômicas", acrescenta. "Não vejo líder para colocar os pingos nos is", arremata o professor Renato Flores, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Sandra Utsumi, diretora de Renda Fixa do Espírito Santo Investment Bank (BES), lembra que os mercados querem uma solução urgente para a crise, mas os países não têm demonstrado a capacidade de reagir rapidamente. Foi essa ansiedade, por sinal, que motivou o comissário europeu dos Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, a pedir, na última sexta-feira, "paciência" aos investidores ao interromper as férias de verão e retornar ao batente.
Nem o presidente dos EUA, Barack Obama, escapa. Sua atuação na negociação do aumento do teto da dívida norte-americana com o Congresso demonstrou que a sua autoridade não é de longe a mesma do início do mandato, muito menos a sua popularidade. "Obama conseguiu aumentar o teto da dívida, mas não passou credibilidade", afirma Flores.
De acordo com o estrategista-chefe para a América Latina do banco alemão WestLB, Roberto Padovani, os Estados Unidos sinalizaram que as decisões sobre o futuro da economia estão contaminadas por interesses políticos. "Essa hesitação na hora de tomar as medidas necessárias, por fatores partidários, deixou em alerta os mercados, que passaram a contabilizar nos riscos o fator político, que é imprevisível." (AD e RH)