Título: Dilma escala o seu time titular
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2011, Política, p. 2

Sem a intenção de promover novas trocas até o fim do ano, a presidente mantém grupo próximo de oito ministros, quatro palacianos e quatro de pastas centrais da Esplanada. Para esse núcleo, as cobranças são redobradas

"Essa daí que diziam que não ia dar nada, hein? Pela primeira vez, em muitos anos, a LDO foi aprovada antes do prazo final." Assim, a presidente Dilma Rousseff, que não é de elogiar subordinados a todo o minuto, fez o primeiro afago à ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Foi no fim do coquetel no Palácio da Alvorada, em 13 de julho, quando Dilma reuniu ministros e líderes da base aliada para marcar o encerramento do semestre e agradecer o apoio de deputados e senadores.

Os políticos já haviam saído. Estavam apenas alguns ministros, entre eles a da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, o da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e a da Secretaria de Comunicação da Presidência, Helena Chagas. São, ao lado de outros quatro colegas com gabinete da Esplanada, fora do Planalto, os que têm as ações mais valorizadas diante da chefe. Ela, aos poucos, vai escolhendo seu time e trocando aqueles que considera mais afinados com o passado do que com o presente.

Entretanto, diz-se no Planalto que a temporada de troca de ministros deste ano se fecha com a substituição de Nelson Jobim por Celso Amorim na Defesa.

Os quatro ministros ditos "da casa" por terem gabinetes no Palácio do Planalto são hoje os mais próximos da presidente Dilma. E não apenas pelo fato de estarem ali, a poucos metros da sala de trabalho da presidente. Ganharam esse status porque Dilma, nestes últimos dois meses, fez deles seu "quarteto fantástico". À exceção de Carvalho, que permaneceu mais porque era a ponte com Lula, mas acabou conquistando Dilma, as três ministras saíram da cartola da chefe, sem a interferência do antecessor.

A presidente está convicta de que encontrou as pessoas certas para cada função e por uma fórmula muito simples: nenhum dos ministros palacianos faz disputa por espaço político ali e nem tem projetos de carreiras conflitantes com outros colegas da Esplanada. Além disso, hoje todos têm acesso direto ao gabinete presidencial ¿ um modelo diferente do que havia nos poucos meses que Antonio Palocci reinou absoluto na Casa Civil. Naquele época, Luiz Sérgio, então ministro de Relações Institucionais e hoje na Pesca, chegava ao fim do dia, tinha que ir ao gabinete de Palocci. Ali, pegava a relação de telefonemas de políticos que deveria retornar a ligação no lugar do ministro da Casa Civil, que não teria tempo de atender a todos. Palocci concentrava essa triagem e muitas outras decisões ¿ quase todas, diga-se.

Com Ideli e Gleisi, a relação é outra. A ministra de Relações Institucionais tem hoje uma agenda independente. Não passa o dia esperando ordens da Casa Civil para retornar aos parlamentares. Logo cedo, telefona aos políticos aniversariantes, atende todos os deputados, procura saber que ministros vão para onde ao longo do mês e manda os assessores descobrirem se há lugar no avião para levar deputados da região visitada. Além de reuniões diárias com líderes, participa de almoços e de jantares parlamentares ¿ uma tradição em Brasília, aonde os políticos geralmente não trazem as famílias. Segue assim uma rotina muito parecido com antecessores como José Múcio Monteiro.

Assim, Gleisi cuida mais dos programas de governo enquanto Ideli faz a parte do dia a dia da política. "Você não é minha office-boy de luxo, você é articuladora política", disse a presidente à ministra Ideli logo na primeira semana. Não por acaso, Dilma ficou tão irritada com o fato de Nelson Jobim, aind no cargo de ministro da Defesa, ter dito numa entrevista que ela era "fraquinha". A presidente considera que acertou ao escolher a ministra.

Dos quatro, a única que participou ativamente da campanha foi a da Secretaria de Comunicação, Helena Chagas, a quem Dilma se afeiçoou e adquiriu confiança. Além de antena palaciana na área da mídia, Helena, quando chamada, expõe opiniões políticas, seara que aprendeu a ler com precisão ao longo dos anos de experiência como repórter, comentarista e colunista.

Sem interferências Além deles, continuam com ações valorizadas no mercado ministerial, Mirim Belchior, do Planejamento, Antônio Patriota (Relações Exteriores), Fernando Pimentel (Indústria e Comércio), amigo de Dilma desde os tempos de luta pela redemocratização; e, ainda o da Saúde, Alexandre Padilha, que trabalhou no Planalto como comandante da pasta de Relações Institucionais quando Dilma era chefe da Casa Civil.

Esses ministros, assim como o da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o de Comunicações, Paulo Bernardo, foram opção da própria Dilma, sem a interferência direta de Lula ou mesmo de seus respectivos partidos. Cardozo, embora continue em alta, está um pouco apagado por opção própria. Evitando holofotes, desvia-se da "maldição" que recaiu sobre os outros dois coordenadores da campanha de Dilma: Palocci e José Eduardo Dutra, ambos fora do governo e do centro de decisório do PT. Paulo Bernardo, até por ter a mulher, Gleisi, na Casa Civil, também se mantém discreto sob o ponto de vista político. Guido Mantega, da Fazenda, foi mantido no cargo sobretudo para mostrar que a política econômica de Lula estava correta. Não será trocado em meio às nuvens de crise que chegam dos Estados Unidos e da Europa, ainda que sua relação com a presidente seja de altos e baixos.

Dos ministros partidários, vários contam com a simpatia e o apoio da presidente. Por exemplo Edison Lobão (Minas e Energia) e Mário Negromonte (Cidades). Mas eles não estão ali porque foram escolha direta dela e sim porque foram apresentados por seus partidos.

A presidente já avisou que espera não ter que trocar mais ninguém no primeiro escalão por ora. Mas, quando se fala de ministério, avisam os amigos da presidente, o futuro a Deus pertence.