Título: Dívida motivou queda de ministro
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2011, Política, p. 4
O governo federal ouviu calado o desabafo do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) depois de seu afastamento do Ministério dos Transportes. Foi calculada, porém, a resignação dos petistas diante do discurso forte do senador, no plenário do Senado. Aos aliados da presidente Dilma Rousseff chegou a informação de que ele foi sacrificado em prol de um objetivo maior. Apesar de a oposição aproveitar as denúncias que atingem o Ministério da Agricultura para forçar a instalação de uma CPI da Corrupção, governistas afirmam que Wagner Rossi não terá o mesmo fim de Nascimento. "Quem caiu foi o Valdemar da Costa Neto, não foi o Nascimento. A presidente soube que ele estava encostado no ministério e teve que jogar fora o bebê junto com a água do banho", conta um petista, referindo-se ao presidente do PR, deputado por São Paulo.
Em seu discurso de volta ao Senado, Nascimento deu pistas dos desdobramentos que levaram a seu afastamento da pasta. "Renunciei ao cargo de ministro no momento em que, diante dos ataques violentos contra a mim deferidos, não recebi do governo o apoio que me havia sido prometido pela presidenta Dilma Rousseff."
Aliados relatam que dívidas de campanha do senador do Amazonas aumentaram o poder de Valdemar sobre a pasta. Os débitos prendiam Nascimento à eminência parda do PR. Apesar de o ministério e a gestão dele serem bem avaliados pelo governo ¿ o senador assumiu com percentual de execução orçamentária de 67,9%, em 2002, e foi exonerado com índice de 88,5%, atingido no ano passado. O Planalto chegou à conclusão de que a única maneira de "recuperar" a pasta seria renovar todo o quadro. Ainda no discurso, Nascimento negou o loteamento da estrutura. "Em momento algum, recebi o pedido ou determinei a prática de qualquer ação lesiva aos cofres públicos, nem autorizei o uso do meu nome na defesa de interesses partidários dentro da administração."
As contas partidárias mostram que o diretório do partido no Amazonas teve dificuldades em angariar fundos nas eleições de 2010, quando Nascimento concorreu ao governo do estado. A contabilidade do partido registra que o diretório do estado contou com "transferências intrapartidárias" para fechar a conta. A situação do diretório nacional também não é das melhores. O partido terminou a eleição com saldo devedor de R$ 41,3 milhões. Dos R$ 10,8 milhões angariados para a campanha de Nascimento ao governo, R$ 8,9 milhões vieram de doações ocultas. Mesmo assim, o candidato ainda fechou a eleição no vermelho, pois teve despesas declaradas de R$ 11,2 milhões.