Título: Especialistas avaliam impactos sobre o real
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2011, Economia, p. 7

Os impactos futuros do pânico que domina os mercados financeiros nos últimos dias sobre o Brasil têm interpretações variadas. A maioria dos especialistas concorda que o país está mais preparado para crises externas, mas duvida que passará ileso a um novo terremoto nas bolsas. Na avaliação do professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Simão Davi Silber uma desaceleração dos países desenvolvidos pode desvalorizar o real, como pôde ser percebido na sexta-feira passada, quando o dólar voltou a se aproximar de R$ 1,60.

"Por um lado, é bom para a economia do país, sobretudo para os exportadores, porque perderam competitividade com a moeda forte. Mas também haverá pressões inflacionárias. Os juros deverão continuar subindo para conter a inflação uma vez que a demanda interna ainda permanecerá aquecida. E é aí que mora o perigo", comenta. "Para o Brasil, não há saída. Por mais que o país esteja preparado para uma guerra, ele vai tomar uns tiros", brinca Silber. "Haverá queda nos preços das commodities porque os países ricos irão demandar menos matérias-primas brasileiras assim como manufaturados. A demanda externa vai diminuir", diz.

O diretor para a América Latina do Deutsche Bank, Frederick Searby, concorda com Silber e destaca ainda que a crise de crédito na Europa pode afetar o sistema bancário. O Brasil, entretanto, deverá sentir menos do que os vizinhos da região. "Alguns países sentirão mais do que outros a fuga de recursos de bancos na região tentando socorrer as matrizes. As instituições financeiras espanholas, por exemplo, representam 10% dos ativos no Brasil. Mas no México e Chile vão de 25% a 30%" comenta.

Searby não aposta, contudo, numa grande entrada de investidores em busca das ações de empresas brasileiras. "A economia brasileira ainda é fechada, mas a Bovespa não reflete o PIB brasileiro e praticamente metade do volume das negociações envolve exportadoras de commodities, como Vale e Petrobras. "Quando há temor no cenário global, os investidores estrangeiros não virão para cá. Procurarão empresas de setores da velha economia e com mais liquidez. Como as de telecomunicações, energia e de saúde que estão listadas nas bolsas dos EUA. Lá existe mais solidez e mercados mais consolidados", explica.

O economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Ernesto Lozardo lembra ainda que as exportações brasileiras têm superavit significativo graças às commodities, que são o fator que mais pesam na balança comercial hoje. Mesmo assim, o país ainda tem condições de atravessar essa crise sem muitos solavancos. "Os bancos europeus não têm recursos para socorrer os países do Velho Continente, o que existe hoje é o Risco Europa e não mais o Risco Brasil. O Brasil está estruturado economicamente, mas será afetado."