Título: Crise reduz remessas de imigrantes latinos
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2011, Economia, p. 7
Estagnação de países desenvolvidos reduz transferências de estrangeiros para nações de origem
Bogotá, Colômbia ¿ O declínio das economias dos Estados Unidos e de países da Europa está impulsionando a mudança na rota mundial do emprego e da renda. Descrentes dos reais efeitos da elevação do teto da dívida nos EUA e da política conduzida pelo presidente Barack Obama, especialistas já apostam na volta de trabalhadores que estão não apenas na economia norte-americana, mas também em mercados como os da Espanha e da Grécia, para seus países de origem.
Agora, em vez de importar mão de obra, as nações desenvolvidas em crise tendem a mandar os estrangeiros de volta para casa. Motivos para esse movimento não faltam. Os Estados Unidos, que, até o início dos anos 2000, registravam o que os analistas chamam de pleno emprego ¿ taxa de desocupação de 4,5% ¿ agora convivem com quase 10% da População Economicamente Ativa (PEA) fora do mercado de trabalho. Na Espanha, de 2007 a 2010, a taxa de desemprego saltou de 8% para 20%. Lá, mais de 4 milhões de pessoas dependem de auxílio do governo.
Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), destaca que, no caso específico das turbulências vividas nos Estados Unidos, os grandes afetados são o México e os países da América Central e do Caribe. "Eles são os que dependem muito das remessas enviadas do exterior. Nos EUA, há muitos trabalhadores latinos na construção, nos serviços e na agricultura, setores que sofreram mais tensões e dificuldades nos últimos tempos", explica.
Ex-ministro de Indústria, Comércio e Turismo da Colômbia, o economista Jorge Humberto Botero afirma que, de fato, alguns trabalhadores já começaram a regressar. "Com isso, deixam de entrar recursos importantes, que dinamizam o gasto e o consumo de nossos mercados", observa. A seu ver, os imigrantes que desembarcaram há pouco tempo nos EUA tendem a regressar mais rápido. "A economia lá é muito dinâmica e os trabalhadores que estão há mais tempo encontram outras formas de se manter. Mas, para quem chegou agora, a realidade é mais dura", constata.
O presidente do BID ressalta que, na Europa, a situação é semelhante. O aumento do desemprego entre os latinos na Espanha, por exemplo, afeta mais países como a Colômbia e o Equador. Moreno observa, porém, que, agora, o regresso de profissionais não deve ser tão alto quanto o observado depois da crise mundial de 2008. "As remessas de trabalhadores no exterior para a América Latina e para o Caribe já estão próximas de US$ 65 bilhões, nível verificado antes do abalo", ressalta.
* A repórter viajou a convite do BID
Termômetro financeiro O volume de recursos enviados por trabalhadores aos países da América Latina e do Caribe subiu 195,7% entre 2001 e 2008, de US$ 23,4 bilhões para US$ 69,2 bilhões. Mas de 2008 a 2009, em razão da crise financeira mundial, caiu 14,8%.
(Total em US$ bilhões) 2001 23,4 2002 30,9 2003 36,9 2004 43,8 2005 52,6 2006 62,0 2007 68,6 2008 69,2 2009 58,8 2010 58,9 Fonte: Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)