Título: Negócios perdidos na estrada
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2011, Economia, p. 9

Integração do comércio entre países da América Latina enfrenta desafios gerados pela ausência de sistemas de transporte terrestre eficazes

Bogotá, Colômbia ¿ Embora esta possa ser considerada a década da América Latina, os países da região enfrentam um desafio comum: os gargalos na infraestrutura. Os problemas são vividos internamente, nas estradas, nos portos e nos aeroportos, e na comunicação entre as próprias economias. O Brasil e a Colômbia, por exemplo, têm 1,7 mil quilômetros de fronteira em um imenso vazio demográfico e econômico, desprovido de um modelo de transporte que contribua para a integração regional.

Para se ter ideia, a estimativa é de que os gastos da Colômbia com frete para enviar mercadorias ao Brasil cheguem a 19% do total do valor das exportações. "Esse é o custo que pagam os canadenses, que vivem 4 mil quilômetros mais distantes que os brasileiros", compara Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Nesta semana, o BID realizou, em parceria com agência Proexport Colômbia, o 1º Fórum de Investimentos Colômbia-Brasil. A proposta foi justamente melhorar o intercâmbio comercial entre os dois países.

Na visão de políticos e especialistas, se os países da América Latina não entenderem a urgência da integração entre suas economias e não fizerem investimentos sólidos, eles correm o risco de perder grandes oportunidades. O Brasil e a Colômbia são apenas dois exemplos.

Assim como eles, o restante da região sofre consequências de modelos econômicos que, de uma forma ou de outra, eliminaram os incentivos para a integração regional.

"Não há explicações para tamanho distanciamento entre os países, a não ser as intrigas feitas por outros que tinham interesse em impedir a nossa hegemonia", avalia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ex-ministro de Indústria, Comércio e Turismo da Colômbia, o economista Jorge Humberto Botero concorda que, entre os obstáculos, estão as barreiras culturais. "Uns não conhecem os outros. Poderíamos, de um lado, criar programas de intercâmbio entre profissionais da área de comércio exterior e, de outro, melhorar a estrutura de navegação", sugere.

Política equivocada As políticas equivocadas não vêm de hoje. No período colonial, a infraestrutura de transporte e a distribuição da produção ignoravam a existência de países vizinhos. Séculos mais tarde, as barreiras até começaram a cair. De 2004 para cá, por exemplo, as trocas comerciais entre Brasil e Colômbia quadruplicaram, chegando a US$ 3 bilhões por ano. Mas elas ainda representam apenas 0,7% do total do comércio dos dois países. "Podemos duplicar esse montante em cinco anos, mas isso requer ações de políticas públicas e o compromisso firme do setor privado", avalia Moreno, do BID. Ele ressalta que o Brasil, no ano passado, atraiu mais de US$ 48,5 milhões em investimento estrangeiro direto (IED), mas o grosso desses recursos (US$ 17 milhões) proveio da China.

Para mudar esse quadro, Miriam Belchior, ministra do Planejamento brasileiro, diz que, no âmbito da União de Nações Sul-Americanas (Unasul ¿ formada pelos 12 países da região), deve ser finalizado até o fim de 2011 um projeto estratégico para os próximos 10 anos. "Esse plano está estruturado em 10 eixos de integração e desenvolvimento. Um reúne exatamente Brasil, Colômbia e Equador. Ele pega toda a área da Bacia do Amazonas até o Pacífico", adiantou.

Essas mudanças, no entanto, estão longe de eliminar as lacunas. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, afirma que, entre a variada lista de itens a serem melhorados, está o das telecomunicações, especialmente o da internet. "Temos áreas inteiras do país como oferta precária do serviço. Na região Amazônica, temos praticamente um apagão", constata.

Ele observa que, em dezembro do ano passado, apenas 27% dos lares brasileiros tinham internet. "E, desse total, 66% têm conexões com velocidade de 1 megabit, não muito alta. Pretendemos chegar a 2014 com 80% dos domicílios conectados à rede", planeja. A pressa é para dar conta do milagre de mudar o país antes da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. "Precisaremos fazer correções ultrarrápidas", diz.

Quem concorda com o ministro é o empresário Marcelo Odebrecht. Para ele, além da questão da banda larga, a melhoria do sistema de transportes deve levar em conta as competições mundiais. "A gente não pode esquecer que o grande legado desses eventos são as obras de mobilidade urbana", diz.

* A repórter viajou a convite do BID