Título: Violência se agrava
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2011, Mundo, p. 13

Tanques do governo mantêm ofensiva e matam mais 54. Bashar al-Assad não dá sinais de que pretende recuar

Apesar da crescente e intensa pressão internacional para que o regime sírio pare com a violenta repressão aos manifestantes, forças do governo tomaram ontem a cidade de Deir Ezzor e mataram pelo menos 42 civis (mais 12 teriam sido mortos em dois outros locais), segundo ativistas dos direitos humanos. A cidade, assim como Homs, havia sido sitiada na noite anterior por vários tanques e blindados militares. O regime do presidente Bashar al-Assad, que teve suas ações criticadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), por países do Ocidente e até pelas monarquias árabes do Golfo, viu ontem a Liga Árabe se juntar à onda internacional que pede o fim do derramamento de sangue.

Em entrevista ao Correio, um dos representantes dos Comitês de Coordenação Locais (LCC), Abeer Al Cham, afirmou que os militares bombardearam vários setores de Deir Ezzor. "É possível ouvir fortes explosões em diferentes partes da cidade", disse, acrescentando que soldados desertores tentavam proteger a população das incursões militares. Os moradores têm sido impedidos de deixar a cidade pelo cerco militar.

Na opinião de Al Cham, a única maneira de parar a violência contra a população seria o Conselho de Segurança das Nações Unidas e todos os países declararem que o atual regime "perdeu sua legitimidade" após tantos massacres. "Esse regime não mais representa os sírios."

Citado pela agência oficial Sana, o presidente defendeu suas ações para conter os manifestantes dizendo que o Estado tem a "obrigação" de atuar "contra os que estão fora da lei" e que "aterrorizam a população. "Atuar contra os que estão fora da lei, bloqueiam as ruas, fecham as cidades e aterrorizam a população é uma obrigação para o Estado, que deve defender a segurança e proteger a vida dos cidadãos", afirmou Assad.

Enquanto tenta justificar seus atos internamente, o presidente é cada vez mais criticado externamente. Ontem, o novo secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, pediu às autoridades sírias o fim "imediato" da violência, no primeiro comunicado oficial da organização sobre a repressão no país. Nabil al-Arabi se reuniu em 13 de julho com Assad para abordar os incidentes.

Pedido papal No Vaticano, o papa Bento XVI fez ontem um "chamado urgente" às autoridades sírias para "responderem às aspirações legítimas" da população. O pontífice também pediu que a comunidade internacional "reative a busca de um plano de paz" na Líbia, onde "a força das armas não resolveu a situação do país".

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que seu país, que partilha uma longa fronteira com a Síria, está "perdendo a paciência". No mesmo dia, um conselheiro de Assad respondeu, ordenando que Ancara "não se intrometa em assuntos sírios". A Turquia tem recebido grandes fluxos de sírios fugindo do conflito. Ontem, uma grande manifestação foi realizada em frente à embaixada síria, em Istambul.