Corrupção derruba o PIB

Correio braziliense, n. 19008, 11/06/2015. Economia, p. 12

Vera Batista

Com um certo atraso, o Banco Mundial (Bird) ratificou ontem o péssimo desempenho da economia brasileira. A instituição reduziu a previsão de crescimento do país tanto para 2015 quanto para os próximos dois anos. Segundo o relatório Perspectiva econômica global, em vez de avanço de 1%, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil terá queda de 1,3% neste ano, um dos piores desempenhos do mundo. Em 2016, a estimativa cedeu de 2,5% para 1,1% e, em 2017, de 2,7% para 2%. Com isso, está se tornando mais evidente que o país caminha a passos largos para outra década perdida. O governo de Dilma Rousseff terá contribuído fortemente para isso.

Pelos cálculos do Bird, o Brasil foi o país com o maior corte de projeções entre as principais economias do planeta, e coube à corrupção desvendada na Petrobras papel relevante nesse processo. “O Brasil, com seu escândalo de corrupção no topo das atenções, tem tido pouca sorte, afundando no crescimento”, assinalou o economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu, no texto que apresenta o relatório. Os desmandos na petroleira paralisaram os investimentos e jogaram a confiança de empresários e consumidores no chão. Também contribuíram para o péssimo desempenho da economia, a inflação alta e os desarranjos nas contas públicas.

Sem meias palavras, o Bird classificou como “decepcionantes” os números da atividade econômica brasileira. “Confiança frágil dos agentes, aumento dos preços administrados e baixo preço das commodities devem contribuir para uma recessão no Brasil em 2015, com recuperação modesta em 2016 e 2017”, destacou Basu. Ele ressaltou ainda, no relatório, que o país comandado por Dilma sofre com as deficiências em infraestrutura.

Para o Banco Mundial, a recuperação da atividade do Brasil, ainda que modesta, em 2016 e 2017, será baseada na implantação dos ajustes fiscal e monetário, na volta da inflação para perto da meta oficial, de 4,5%, e na melhora da confiança dos brasileiros. Não será fácil, porém, essa trajetória, uma vez que o ajuste fiscal é o possível, não o necessário, e o custo de vida dá sinais de forte resistência, mesmo com o Banco Central tendo elevado a taxa básica de juros (Selic) de 7,25% para 13,75% ao ano desde 2013.

Na avaliação do Bird, diante da piora da atividade do Brasil e em outros países da América do Sul, como a Venezuela, a América Latina crescerá apenas 0,4% neste ano, ante previsão anterior de 1,7%. 

Espanhóis de olho no HSBC

A briga pelas operações do banco britânico HSBC no Brasil será acirrada. Ontem, o espanhol BBVA admitiu que está avaliando a possibilidade de fazer uma oferta tanto pelos negócios no Brasil quanto pelos da Turquia. “Nós avaliamos as operações do HSBC na Turquia e no Brasil. Não seriam negócios fáceis. Vamos ver. Se houver oportunidade, vamos atrás delas”, disse Vicente Rodero, diretor de Franquias Globais do BBVA. O HSBC está sendo disputado pelos três maiores bancos privados do país, o Itaú Unibanco, o Bradesco e o Santander. A operação, no entanto, precisa passar pelo crivo do Banco Central. A decisão do comando do HSBC de sair do Brasil se deve ao acúmulo de prejuízos. Em 2014, as perdas chegaram a R$ 549 milhões.