Valor econômico, v. 15, n. 3736, 15/04/2015. Brasil, p. A4

Coutinho admite "erro" no volume de recursos do Tesouro para o BNDES

Por Edna Simão e Leandra Peres | De Brasília

 

Ruy Baron/ValorPresidente do BNDES, Luciano Coutinho: "Considerando o que aconteceu no mundo inteiro, foi uma estratégia adequada"

Alinhado com a nova equipe econômica, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, admitiu ter ocorrido "erro" na dosagem da política de repasses de recursos subsidiados do Tesouro Nacional, mas não na estratégia do governo. Para se ajustar ao novo cenário econômico, o banco deve desembolsar um volume de crédito neste ano inferior aos R$ 187,8 bilhões de 2014.

Em audiência pública conjunta da Comissão de Assuntos Econômicos e de Infraestrutura do Senado, os parlamentares criticaram a política de subsídios adotada pelo governo nos últimos anos, que fizeram com que a dívida pública apresentasse forte crescimento. "Pode ter ocorrido erro de calibragem, mas não de estratégia. Considerando o que aconteceu no mundo inteiro, foi uma estratégia adequada", afirmou Coutinho.

Segundo ele, não dá para mensurar o resultado da política de subsídios considerando apenas o impacto nas contas do Tesouro Nacional. Na avaliação do presidente do BNDES, é preciso considerar a contribuição para o aumento do investimento e no emprego. "Olhar só o custo sem olhar o benefício pode ser visão incompleta", disse Coutinho.

O presidente do BNDES afirmou, no entanto, que o banco já está se adequando à nova realidade fiscal. "Provavelmente em 2015, nós teremos uma moderação do desempenho do banco em função da necessidade de colaborar com a política fiscal. Não podemos exercer pressão sobre a dívida pública e o BNDES não será pressão sobre a dívida este ano, o que vai resultar em um desempenho mais moderado [do crédito]", afirmou, acrescentando que a demanda por esse crédito tem sido menor neste ano.

Coutinho ressaltou, no momento, que há uma diferença alta entre os juros de curto e de longo prazo, o que acaba impactando diretamente num custo mais elevado dos empréstimos subsidiados ao Tesouro Nacional. Porém, o ajuste fiscal vai abrir espaço para a recuperação da economia brasileira.

"As políticas fiscal e monetária têm sido rigorosas e precisam ser. Mas, em algum momento no futuro, quando a inflação estiver sob controle e sinalizar trajetória de queda, será óbvio que a taxa de juros vai cair no futuro. E, ao cair, a diferença entre Selic e TJLP volta a se achatar", explicou Coutinho.

Após receber muitas críticas dos senadores com relação à falta de transparência do BNDES nas operações com outros países e ao detalhamento de contrato feito com empresas, Coutinho afirmou que o banco de fomento divulga todas as informações que são permitidas pela legislação brasileira.

"Não é capricho ou questão de temer ou não [divulgar informações detalhadas dos contratos de crédito]. Tenho confiança na lisura dos processos do BNDES", disse Coutinho, que propôs uma discussão técnica no Congresso Nacional para saber quais informações podem ou não ser divulgadas.

Segundo o presidente do BNDES, está ocorrendo uma "confusão" entre o que é transparência das operações do BNDES e sigilo das empresas. "Todas as operações são registradas em contratos. Não há segredo nas operações do banco. O sigilo bancário diz respeito à intimidade da empresa", comentou.