Comércio na balança

 

POR MÍRIAM LEITÃO

O déficit da conta de petróleo diminuiu em US$ 3,1 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, pelo aumento das exportações do óleo e pela queda das importações. Elevou-se também o volume das vendas de minério de ferro, produto que teve grande queda de preço. A alta do dólar ainda não está fazendo efeito em estimular exportações, e uma das causas é a forte volatilidade da moeda.

O comércio externo teve pequeno superávit em abril, e a Associação de Comércio Exterior (AEB) continua prevendo um saldo positivo no ano, segundo José Augusto de Castro. Para ele, o efeito benéfico do câmbio demora de seis meses a um ano para estimular as vendas externas e, neste momento, o sobe e desce da moeda reduz o ganho que poderia haver.

A balança comercial brasileira sente os efeitos da queda dos preços das matérias-primas e da dificuldade do país de alavancar as vendas de produtos industriais. As importações caem, refletindo o menor apetite por consumo e investimentos.

De janeiro a abril, o saldo da balança comercial está negativo em US$ 5 bilhões. Este ano, está caindo tudo: exportação (-16,4%), importação (-15,9%), e, consequentemente, a corrente de comércio (-16,1%), que voltou ao nível mais baixo desde 2010. Regredimos cinco anos no comércio com o exterior.

O maior impacto nas exportações está na queda do preço das commodities. O minério de ferro perdeu 50% do valor este ano, e é nosso principal produto. Já a soja, o segundo da lista, ficou 20% mais barata. Com isso, a receita com exportação de minério de ferro, em dólares, ficou 45% menor, enquanto a de soja caiu 41%.

Mas isso não explica tudo. As exportações de produtos manufaturados encolheram 11% de janeiro a abril, mesmo com a desvalorização do real, que torna os produtos brasileiros mais atrativos no exterior. As vendas caíram de US$ 24,6 bilhões para US$ 21,8 bi. Uma perda de US$ 2,8 bilhões em quatro meses.

José Augusto de Castro explica que a indústria exportadora ficou menos competitiva este ano, mesmo com o real mais fraco. Houve aumento de preços na energia elétrica, mudanças de regras na contribuição da folha de pagamento, e cobrança de PIS e Cofins nas operações de hedge cambial. O ajuste fiscal também prejudicou as operações do Proex, um programa do Governo Federal que ajuda a diminuir custos.

A lista é longa, pela explicação de Castro. O dólar não parou no lugar, e, na dúvida, exportadores fecham contratos com uma cotação mais conservadora. Além disso, a América Latina, que compra 50% dos nossos produtos industriais, também sente o efeito da queda das matérias-primas e está com menor poder de compra:

— Este era o momento de vender mais para os Estados Unidos, que são o principal mercado comprador de manufaturas do mundo. Mas nossas relações comerciais com eles se enfraqueceram nos últimos anos e, de janeiro a abril, vendemos 5,7% a menos.

O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, lembra que várias outras moedas pelo mundo perderam valor. Ou seja, nossos principais concorrentes também tiveram esse ganho cambial, não só a indústria brasileira.

A queda de 32% nas importações de combustíveis e lubrificantes é um dos motivos para a redução do déficit da conta petróleo, de US$ 7,4 bilhões, de janeiro a abril de 2014, para US$ 4,3 bilhões, no mesmo período deste ano. Isso reflete o ritmo menor da economia, com a forte retração das vendas de carros e o menor fluxo de caminhões nas estradas, que reduziram o consumo de combustíveis. Mas também houve um forte aumento das exportações de petróleo, em volume, que praticamente dobraram: 94,6%, no período.

José Augusto de Castro prevê um saldo positivo na balança comercial deste ano, porque as importações vão cair mais do que as exportações:

— Será um falso positivo, porque o motivo para o número azul será ruim, com queda mais intensa das importações. Avalio que as importações estão caindo até agora pela redução do consumo e ainda vão cair mais pelo dólar mais caro. Esse efeito ainda vai ficar mais forte ao longo do ano — explicou.

Com a queda do consumo interno e dos investimentos, aumentar as exportações é uma das poucas saídas para o país voltar a crescer.