Culpa nos 'maus políticos"

 

BRASÍLIA - Depois de se declarar arrependido pelos crimes que cometeu e até invocar lições de Santa Terezinha, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa voltou a acusar nesta terça-feira o que chamou de “maus políticos”, deputados, senadores e ex-ministros de receberem dinheiro desviado de contratos entre empreiteiras e a estatal. Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o escândalo da Petrobras, Costa foi obrigado a citar nomes, numa espécie de chamada da corrupção. Também fez críticas à administração da Petrobras, da qual foi diretor por oito anos, atribuindo o maior prejuízo da estatal à ingerência política do que à corrupção.

No início do depoimento, o ex-diretor se declarou arrependido de se envolver com a corrupção na Petrobras e disse que ele a família estão sofrendo muito por isso.

Pressionado pelos parlamentares da comissão, Costa citou os nomes do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e dos ex-ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Paulo Bernardo (Comunicações), entre outros, como beneficiários da corrupção. O deputado Ivan Valente (PSOL) leu uma lista de mais de cinquenta políticos e Costa disse ter beneficiado pelo menos 29.

Foi o quarto depoimento do ex-diretor à uma CPI desde o início da Operação Lava-Jato em março de 2014, quando foi preso. Em junho, depois de deixar a prisão por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), Costa falou à CPI exclusiva do Senado sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, que levou provocou um prejuízo de US$ 792 bilhões para a Petrobras. Na ocasião, negou ter se beneficiado de contratos da Petrobras, que disse não ser “casa de negócios”. Preso novamente dias depois, Costa preferiu ficar em silêncio quando foi convocado pela CPI mista da Petrobras, em setembro. Exibindo um bigode, ele já havia firmado acordo de delação premiada com o Ministério Público e migrado para a prisão domiciliar. Em dezembro, voltou à comissão para uma acareação com o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró e soltou o verbo. Nestaterça-feira, fez uma descrição da estatal bem diferente da de sua primeira participação.

Costa responsabilizou o ex-ministro Guido Mantega, que foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras no primeiro governo Dilma, por segurar o reajuste de preços da gasolina e de outros derivados do petróleo, contrariando suas recomendações. Segundo ele, a decisão provocou um prejuízo de pelo menos R$ 60 bilhões à estatal e levou a companhia a amargar o primeiro lugar entre as empresas mais endividadas do planeta.

— Nos últimos cinco, seis anos, o que arrebentou a Petrobras foi o preço dos derivados que o governo segurou. A Lava Jato é 10% do rombo da Petrobras. Não tem como reaver esse rombo — afirmou o ex-diretor em resposta a uma das perguntas do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) sobre o assunto. — O maior problema da Petrobras não é a Lava Jato, é a gestão.

Costa reafirmou revelações de sua delação, como a de que, na campanha de 2010, o doleiro Alberto Youssef, outro investigado na Lava Jato, o procurou com um pedido de R$ 2 milhões para a campanha da então candidata Dilma Rousseff. Youssef teria dito que o pedido tinha partido do ex-ministro da Fazenda Antonio Palloci, um dos ex-coordenadores da campanha da presidente naquele ano que é investigado na Lava-Jato. O ex-diretor também repetiu que intermediou doações de empreiteiras envolvidas nas fraudes na Petrobras para campanhas do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e do ex-governador Sérgio Cabral, ambos do PMDB.

Costa voltou a dizer que que a construtora Queiroz Galvão pagou R$ 10 milhões ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014, para esvaziar uma CPI da Petrobras em 2010. Ele também reafirmou que, numa negociação intermediada pelo senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), repassou R$ 20 milhões do esquema na Petrobras para a campanha do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto num acidente de avião em agosto do ano passado. As referências aos políticos já constam em mais de 100 depoimentos da delação premiada que o ex-diretor prestou à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em troca de redução de pena.

Paulo Roberto reafirmou a existência do cartel das empreiteiras, que controlavam as licitações na Petrobras, e pôs em xeque todas as doações de empresas para campanhas eleitorais. Segundo ele, não existe doação. Empresários oferecerem dinheiro para político, mas depois cobram o retorno desses valores.

— No mundo empresarial não existe almoço grátis. Uma empresa doa R$ 5 milhões para depois cobrar R$ 15 milhões — afirmou.

No começo, o ex-diretor falou das fraudes de forma genérica. Segundo ele, o problema tinha como origem os maus políticos. Pressionado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), o ex-diretor passou a citar nomes de políticos que, segundo ele, se beneficiaram da corrupção. Primeiro ele relembrou o início do esquema com políticos do PP e mencionou os nomes do senador Ciro Nogueira (PI), deputado Mario Negromonte (BA) e José Janene (PR),já morto. Quando cobrado por mais informações, afirmou:

— Teve o PMDB, o senador Renan Calheiros, Anibal Gomes. Do PT tive contato e ações com senador Lindbergh, com senador Humberto Costa. Senador Romero Juca, tive contato com ele. Contatos eram situações irregulares — disse.

Renan Calheiros disse que a acusação não merecia sequer uma resposta.