Instituto ligado a Collor recebeu R$ 2,78 milhões da estatal

 

A Petrobras repassou R$ 2,78 milhões ao Instituto Arnon de Mello de Liberdade Econômica e Promoção Social, entidade do senador Fernando Collor (PTB-AL) e de sua família em Alagoas e que leva o nome do ex-senador e pai de Collor. A estatal patrocinou o instituto por cinco vezes, com contratos assinados em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. A última parceria termina em junho.

O instituto recebeu o maior valor (R$ 900 mil) para organizar o seminário “Os reflexos da descoberta do pré-sal no desenvolvimento do Nordeste”, realizado num hotel na praia de Lagoa da Anta, em Maceió. Collor abriu o seminário e discursou. Depois, preparou material de divulgação do Senado sobre o evento, com a reprodução do discurso, na condição de presidente da Comissão de Infraestrutura.

O seminário ocorreu em 14 de abril de 2010, com a presença de diretores da Petrobras e do então ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. A presença da então candidata à Presidência, Dilma Rousseff, estava prevista, mas não há registros de sua participação. Dilma deixara a Casa Civil 11 dias antes para disputar a Presidência.

Com a Operação Lava-Jato, Collor passou a ser investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, em inquérito aberto em março. O doleiro Alberto Youssef disse, em delação premiada, ter repassado propina ao senador. A Polícia Federal encontrou depósitos bancários de Youssef para Collor no valor de R$ 50 mil.

 

Além do seminário sobre o pré-sal, a Petrobras financiou publicações do Instituto Arnon de Mello. Algumas dessas publicações eram encadernadas no jornal “Gazeta de Alagoas”, de propriedade de Collor, como admitiu o presidente da entidade, Carlos Alberto Pinheiro, e conforme reportagens publicadas pelo periódico. É o caso de “Patrimônio Memorável de Alagoas”, que contou com um repasse de R$ 550 mil da estatal. A obra foi encartada em dez fascículos na “Gazeta de Alagoas” às terças-feiras, “apenas para assinantes”, segundo reportagem do jornal de 17 de julho de 2011.

Em 2012, a estatal patrocinou, com R$ 550 mil, e com R$ 480 mil em 2013, a edição da “Enciclopédia dos municípios alagoanos”.

PETROBRAS: PATROCÍNIO CUMPRIU OBJETIVO

O Instituto Arnon de Mello, que se define como entidade sem fins lucrativos, integra a Organização Arnon de Mello, grupo de comunicação em Alagoas do qual a “Gazeta de Alagoas” faz parte. A declaração de bens de Collor à Justiça Eleitoral mostra que ele tem cotas da organização e do jornal.

— Essas publicações são distribuídas gratuitamente, algumas são entregues a professores no exterior. Antes, o material era encadernado nos jornais — disse Pinheiro.

Ele negou interferência de Collor na busca pelos patrocínios. Sobre o seminário, disse que a Petrobras procurou o instituto, não o contrário:

— Collor é um dos donos, um dos acionistas, mas não interfere no instituto. Nunca falou sobre o assunto, apenas elogiou as obras. Nosso entendimento foi com a Superintendência da Petrobras em Alagoas. Pedimos o patrocínio (no caso das publicações) — disse.

O GLOBO procurou a assessoria de Collor, que pediu o envio das perguntas por e-mail. Não houve resposta. A Petrobras informou que “não financia organizações”, mas patrocina projetos com retorno de visibilidade de marca. A estatal confirmou os repasses e disse que houve “total cumprimento do objeto”.